Publication year: 2023
Introdução:
A Violência por Parceiro Íntimo (VPI) é um fenômeno que pode ser experienciado na adolescência, suas consequências podem ser danosas e o sofrimento gerado pode reverberar durante toda a vida, tanto nas das vítimas quanto nas dos agressores. Objetivo:
Compreender a Violência por Parceiro íntimo a partir dos relatos de adolescentes em privação de liberdade em um Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente, feminino, de internação na capital de São Paulo. Metodologia:
Estudo descritivo com abordagem metodológica qualitativa, ancorado na Teoria de Intervenção Práxica em Enfermagem em Saúde Coletiva - TIPESC (Egry, 1996). Foram realizadas entrevistas com adolescentes cumprindo medida socioeducativa de internação em um Centro de Atendimento da Fundação CASA de São Paulo. Foi aplicado o questionário para caracterização da produção e reprodução social, e realizadas perguntas conforme roteiro pré-estabelecido, estimulando as respostas em profundidade. As entrevistas foram gravadas e transcritas e submetidas à Análise de conteúdo proposta por Bardin (2016). Resultados e Discussão:
Foram entrevistadas 14 adolescentes, sendo 11 cisgênero e 3 transgênero, com idades compreendidas entre 15 e 18 anos. Emergiram da análise dos conteúdos 6 categorias empíricas e derivadas dessas 42 subcategorias A população participante evidenciou a vivência de alguma forma de violência em algum relacionamento íntimo durante a vida, mesmo que não as reconhecessem como tal. A VPI também se mostrou presente durante a privação de liberdade. Tal como em outros cenários estudados anteriormente, as adolescentes estão sujeitas à violência por parceiro íntimo, seja no papel do agressor quanto no papel de vítima, sendo as práticas mais frequentes as violências psicológicas, e física. No entanto, ficou evidente que no contexto institucional, a principal forma de violência nos relacionamentos íntimos é a psicológica. A naturalização da violência e perpetração geracional é uma necessidade constante de intervenção neste contexto, já que a convicção de que a violência é a melhor forma de resolução de conflitos se mostra presente socialmente. Tal exemplificação se mostra na dificuldade de apontar formas alternativas para a solução de conflitos, indicando a ausência de estratégias individuais de enfrentamento à violência no namoro. Considerações finais:
A VPI se mostrou presente nos relacionamentos afetivos das adolescentes privadas de liberdade, seja durante a execução de medida ou prévio ao ingresso na instituição. A história familiar estava intimamente relacionada à naturalização da violência, uma vez que contribuiu para a compreensão de que esta consiste em uma forma de solução de problemas. O enfrentamento da violência foi relatado por meio de propostas pouco eficazes, que podem, inclusive, favorecer o papel do agressor. Compreender as formas de VPI comuns a esta população, permeia a construção de estratégias de enfrentamento. Nesse sentido, esta pesquisa iniciou uma caminhada em busca de respostas interventivas, analisando experiências das adolescentes no Sistema Socioeducativo. A partir dos resultados, se mostra fundamental o desenvolvimento de pesquisas que compreendam o papel dos profissionais que atuam neste cenário para a prevenção da VPI. Produto técnico:
Cartilha instrucional, com definição de VPI e suas formas e estratégias de prevenção e enfrentamento, com exemplificação das experiências relatadas durante a pesquisa.
Introduction:
Intimate Partner Violence (IPV) is a phenomenon that can be experienced during adolescence, its consequences can be harmful, and the generated suffering can reverberate throughout life, both for the victims and the perpetrators. Objective:
To understand Intimate Partner Violence through the accounts of adolescents deprived of liberty in a Socio-Educational Center for Female Adolescents in detention in the capital of São Paulo. Methodology:
Descriptive study with a qualitative methodological approach, grounded in the Praxical Intervention Theory in Community Health Nursing - TIPESC (Egry, 1996). Interviews were conducted with adolescents undergoing socio-educational detention measures at a Care Center operated by the CASA Foundation in São Paulo. A questionnaire was administered to characterize their social production and reproduction, and questions were performed according to a pre-established script, encouraging in-depth responses. The interviews were recorded, transcribed, and subjected to Content Analysis as proposed by Bardin (2016). Results and Discussion:
Fourteen adolescents were interviewed, comprising 11 cisgender and 3 transgender individuals, aged between 15 and 18 years. Six empirical categories and 42 subcategories emerged from the content analysis. The participating population revealed experiences of some form of violence in intimate relationships during their lives, even if they did not recognize them as such. IPV also manifested during their period of detention. Similar to other previously studied settings, adolescents are susceptible to intimate partner violence, whether as perpetrators or victims, with the most frequent practices being psychological and physical violence. However, it became evident that within the institutional context, the primary form of violence in intimate relationships is psychological. The normalization of violence and generational perpetration is an ongoing intervention need within this context, given the prevailing belief that violence is the most effective conflict resolution method. This is exemplified by the difficulty in identifying alternative ways to resolve conflicts, indicating a lack of individual strategies to address dating violence. Final Remarks:
Intimate Partner Violence (IPV) was evident in the romantic relationships of incarcerated adolescents, whether occurring during the execution of their sentence or prior to their admission to the institution. Family history was closely tied to the normalization of violence, as it contributed to the perception that violence is a way to solve problems. Confronting violence was reported through relatively ineffective strategies, which may even favor the role of the aggressor. Understanding the common forms of IPV within this population is crucial for developing coping strategies. In this regard, this research embarked on a journey to find intervention answers by analyzing the experiences of adolescents within the Socio-Educational System. Based on the results, it is essential to further research the role of professionals working in this scenario for the prevention of IPV. Technical Product:
Instructional booklet providing definitions of IPV and its forms, along with prevention and coping strategies, including examples of experiences reported during the research.