Publication year: 2024
Introdução:
A pandemia de COVID-19 afetou e interrompeu diversos cuidados ofertados na Atenção Primária à Saúde (APS). Essas interrupções podem ter impactado de forma mais intensa os atendimentos ginecológicos, como aqueles realizados pelos enfermeiros. Demandas como contracepção, tratamento de vulvovaginites e queixa menstrual, em comparação aos cuidados obstétricos, podem ter sido negligenciadas. Objetivos:
Identificar o impacto da pandemia de COVID-19 na utilização dos serviços da Atenção Primária à Saúde para contracepção, vulvovaginites e queixa menstrual entre mulheres usuárias do Sistema Único de Saúde no período de 2018 a 2023, considerando as regiões e os estados brasileiros. Método:
Estudo ecológico, de série temporal, com dados secundários, agregados e disponíveis publicamente, provenientes do Sistema de Informação em Saúde da Atenção Básica entre 2018 e 2023. Foram calculadas taxas mensais de atendimentos ginecológicos e proporções de atendimentos realizados por enfermeiros, além da média trimestral dessas taxas e proporções. Utilizou-se o modelo de regressão Joinpoint para análise de tendências por regiões do Brasil, e foi calculada a Taxa de Variação Trimestral (QPC) para avaliar as mudanças temporais ao longo do período. Resultados:
Entre as três demandas ginecológicas analisadas, os atendimentos relacionados à contracepção foram os mais frequentes, enquanto aqueles por queixa menstrual foram os menos frequentes, em todo o período analisado. Observou-se uma redução significativa na tendência da taxa de atendimentos para vulvovaginites no Brasil durante a pandemia, entre o 3° trimestre de 2019 e 2º trimestre de 2020 (QPC: -14,60, p= 0,036), com uma rápida recuperação até o 3º trimestre de 2021 (QPC:17,63, p= 0,027). Para contracepção, a tendência manteve-se estacionária durante a pandemia (QPC: -7,99, p= 0,080), mas apresentou crescimento significativo no período subsequente (QPC: 14,34, valor-p 0,013). Já para queixa menstrual, a tendência permaneceu estacionária entre o 2º trimestre de 2020 ao 4º trimestre de 2023 (QPC: -8,25 a 16,63, p>0,05). Mais de 60% dos atendimentos ginecológicos foram realizados por enfermeiros, com maior atuação nos estados das regiões Norte e Nordeste. Nessas regiões, o QPC das taxas trimestrais foi negativo para todos os tipos de atendimentos durante a pandemia, porém sem significância estatística. De forma geral, a atuação dos enfermeiros não foi impactada pela pandemia, com a média nacional indicando uma tendência crescente em todos os cuidados ginecológicos (p <0,05). No entanto, a região Sudeste apresentou uma redução significativa na participação do enfermeiro nos atendimentos a queixa menstrual após início da pandemia (QPC: -1,10, p= 0,002). Conclusão:
A pandemia de COVID-19 impactou negativamente os atendimentos ginecológicos na APS, embora de forma breve, seguida por uma rápida recuperação. O enfermeiro manteve seu protagonismo mesmo em meio à crise sanitária. As desigualdades regionais, evidenciam o manejo descoordenado da crise sanitária no país, mas também destacam uma maior valorização desse profissional nas regiões Norte e Nordeste. A APS e os enfermeiros demonstraram resiliência durante a pandemia, reforçando a importância do SUS e do reconhecimento da enfermagem como essencial para a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos no Brasil.
Introduction:
The COVID-19 pandemic disrupted and interrupted various services provided by Primary Health Care (PHC). These disruptions may have disproportionately affected gynecological care, including those delivered by nurses. Demands such as contraception, vulvovaginitis, and menstrual complaints, compared to obstetric care, may have been neglected. Objectives:
To assess the impact of the COVID-19 pandemic on the utilization of PHC services for contraception, vulvovaginitis, and menstrual complaints among women accessing the Brazilian Unified Health System (SUS) between 2018 and 2023, across Brazilian regions and states. Methods:
An ecological study with a time series design was conducted using secondary, aggregated, publicly available data from the Primary Health Care Information System between 2018 and 2023. Monthly rates of gynecological care and the proportion of services provided by nurses were calculated, followed by the quarterly averages of these rates and proportions. The Joinpoint regression model was used to analyze trends by Brazilian regions, and the Quarterly Percent Change (QPC) was calculated to evaluate temporal changes over the study period. Results:
Among the three gynecological demands analyzed, contraception services were the most frequent, while menstrual complaints were the least frequent throughout the study period. A significant reduction in the trend of care rates for vulvovaginitis was observed during the pandemic in Brazil, between the 3rd quarter of 2019 and the 2nd quarter of 2020 (QPC: -14.60, p=0.036), with a rapid recovery until the 3rd quarter of 2021 (QPC: 17.63, p=0.027). For contraception services, the trend remained stationary during the pandemic (QPC: -7.99, p=0.080) but showed growth afterwards (QPC: 14.34, p=0.013). The trend for menstrual complaints remained stationary from the 2nd quarter of 2020 to the 4th quarter of 2023 (QPC: -8.25 to 16.63, p>0.05). More than 60% of gynecological services were provided by nurses, with the highest activity observed in the North and Northeast regions. In these regions, the QPC for the quarterly rates was negative for all services during the pandemic, but without statistical significance. Overall, the nurse’s role was not significantly affected by the pandemic; national averages indicated an increasing trend in all gynecological care services (p<0.05). However, in the Southeast region, there was a significant reduction in the participation of nurses in menstrual complaints care following the onset of the pandemic (QPC: -1.10, p=0.002). Conclusion:
The pandemic had a brief negative impact on gynecological services in PHC, with a rapid recovery. Nurses maintained a leading role despite the health crisis. Regional inequalities highlight the uncoordinated management of the pandemic in Brazil and the greater recognition of nurses in the North and Northeast regions. PHC and nurses demonstrated resilience during the pandemic, underscoring the importance of SUS and the essential role of nurses in ensuring sexual and reproductive rights in Brazil.