Publication year: 2023
Introdução:
A dor em crianças hospitalizadas é um fenômeno frequente, porém ainda desvalorizado pelos profissionais de saúde. O enfermeiro possui papel ativo em seu gerenciamento, principalmente por intermédio de intervenções não farmacológicas. Objetivo:
Avaliar a efetividade do banho terapêutico associado à medicação analgésica, em comparação ao uso isolado da medicação analgésica, no alívio da dor aguda em crianças hospitalizadas por agravos respiratórios. Método:
Ensaio clínico controlado randomizado, de superioridade, com grupos paralelos, de abordagem mista. O estudo foi conduzido no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, no Pronto Socorro Infantil (PSI) e na Unidade de Internação Pediátrica (UIP), com crianças na faixa etária entre 28 dias e três anos incompletos, hospitalizadas por um agravo respiratório com dor moderada ou forte validada pela escala Neonatal Infant Pain Scale (NIPS)(28 dias a dois meses), ou dor leve, moderada ou severa, pela Face, legs, activity, cry and consolability (FLACC)(dois meses a três anos incompletos). Por meio da amostragem aleatória simples, as crianças foram alocadas em dois grupos: Grupo Controle(GC): Medicação analgésica isolada, e Grupo Intervenção(GI): Banho terapêutico e medicação analgésica (via oral, enteral ou parenteral). O GI recebeu o banho terapêutico na dose de uma exposição; realizado pelo familiar, sozinho ou com auxílio do pesquisador; pelo pesquisador sozinho; ou pelo funcionário da unidade (modo de entrega) com duração de, no mínimo, cinco minutos; com os seguintes ingredientes ativos: imersão em água com temperatura entre 37 e 39°C, com 2/3 do corpo imersos, e emersão com temperatura acima de 36°C. Em ambos os grupos, a dor foi avaliada no tempo (T): T0-avaliação inicial pelo pesquisador; e reavaliada nos tempos: T1- 15 minutos, T2- 30 minutos e T3- 60 minutos após a medicação. Os dados foram coletados por um instrumento formulado pelo pesquisador. Calculou-se um tamanho amostral de 42 crianças (21 alocadas para cada grupo); contudo, optou-se pela coleta de 80 crianças (40 alocadas em cada grupo). No GI, ao término do seguimento, por meio de uma amostra por conveniência, foi conduzida uma coleta qualitativa mediante a solicitação do registro da opinião da mãe sobre o banho terapêutico. Para a análise dos dados, foi feito um cálculo de equivalência, transformando a escala NIPS na escala FLACC. Os dados quantitativos foram submetidos à análise descritiva e inferencial, considerando o valor de p<0,05 como diferença estatística e o intervalo de confiança de 95%. Por outro lado, os dados qualitativos, foram submetidos à análise temática de conteúdo de Bardin, complementada pela análise lexical com o uso do software Interface de R pour les Analyse Multidimensionnielles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ). Respeitaram-se as diretrizes éticas. Resultados:
Foram recrutadas 80 crianças, com alocação de 40 a cada grupo. Houve prevalência do sexo masculino (70%), com média de idade de oito meses, em observação no PSI (86,2%), por quadro de bronquiolite (56,2%), com vírus sincicial respiratório (52,2%) e fazendo uso de cateter nasal de alto fluxo (36,2%) ou cateter nasal (36,2%). A principal medicação realizada foi a dipirona, por via oral, em ambos os grupos. Em média, as crianças foram imersas no banho com a água em temperatura de 38,5°C e emersas após sete minutos em temperatura de 36,7°C. A intervenção foi realizada, principalmente pela mãe (52,5%). Ambos os grupos iniciaram o estudo com dor severa; contudo, o GI apresentou queda mais rápida e acentuada do escore álgico nos diferentes momentos de reavaliação, com apenas uma criança pontuando ao término do seguimento (p<0,001). O mesmo achado foi indicado considerando-se os parâmetros isolados da escala NIPS e FLACC (p <0,05). Na amostra total, observou-se que o tempo reduziu a dor das crianças, independente da variável de caracterização. No entanto, as crianças com bocavírus apresentaram menor escore, enquanto aquelas em uso de cateter nasal de alto fluxo, maior escore de dor. Ao analisar as variáveis de caracterização e o escore de dor nos diferentes grupos de alocação, não se observou influência, sem diferença estatística. Dezesseis mães redigiram suas opiniões sobre o banho terapêutico, com relato dos benefícios: alívio da dor e sintomas respiratórios, adormecimento, conforto, tranquilidade e colaboração. Relataram também transição de sua sensação de impotência para a sensação de inclusão e satisfação. Nas opiniões das mães, o banho terapêutico foi visto como uma intervenção inovadora, com sua recomendação. Conclusão:
O banho terapêutico, associado à medicação analgésica, é uma intervenção efetiva no alívio da dor de crianças hospitalizadas com agravos respiratórios, proporcionando maior alívio da dor, em comparação com a medicação analgésica isolada, com o reconhecimento das mães sobre a intervenção o que aumenta a sua força de recomendação. A intervenção demonstra o pioneirismo, potencialidade e capacidade de inovação de enfermeiros, com a ressignificação de uma intervenção de higiene, corriqueira na prática, para uma intervenção não farmacológica para alívio da dor com sua efetividade comprovada. Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos:
U1111-1274-3262
Introduction:
Pain in hospitalized children is a frequent phenomenon, but still undervalued by health professionals. The nurse has an active role in its management, mainly through nonpharmacological interventions. Objective:
To evaluate the effectiveness of therapeutic bath associated with analgesic medication, compared to the isolated use of analgesic medication to relieve acute pain in children hospitalized for respiratory problems. Method:
A mixedmethods, parallel group, superiority cluster randomized controlled trial. The study was conducted at the Teaching Hospital of the University of São Paulo, at the Pediatric Emergency Room (PER) and Pediatric Inpatient Unit (PIU), with children aged between 28 days and three years old, hospitalized for a respiratory condition with moderate or severe pain validated by the Neonatal Infant Pain Scale (NIPS)(28 days to two months), or mild, moderate or severe pain, validated by the Face, legs, activity, cry and consolability (FLACC) scale (two months to three years incomplete). Through simple random sampling, the children were allocated into two groups: Control Group (CG): Isolated analgesic medication, and Intervention Group (IG): Therapeutic bath and isolated analgesic medication (oral, enteral, or parenteral). The IG received the therapeutic bath (one exposure), which was carried out by the family member, alone or with the assistance of the researcher; by the researcher alone; or by the unit employee (delivery method) lasting at least five minutes; with the following active ingredients: immersion in water with temperature between 37 and 39°C; with 2/3 of the body immersed, and emergence with temperature above 36°C. In both groups, pain was assessed at time (T): T0-initial assessment by the researcher; and reevaluated at times: T1- 15 minutes, T2- 30 minutes and T3- 60 minutes after medication. Data were collected using an instrument formulated by the researcher. A sample size of 42 children was calculated (21 allocated to each group); however, data were collected from 80 children (40 allocated to each group). In the IG, a qualitative collection was conducted by requesting the mothers to report their opinion about the therapeutic bath through a convenience sample at the end of the follow-up. For data analysis, an equivalence calculation was made, turning the NIPS scale into the FLACC scale. Quantitative data were subjected to descriptive and inferential analysis, considering the value of p<0.05 as statistical difference and a confidence interval of 95%. On the other hand, the qualitative data were subjected to Bardin's thematic content analysis, complemented by lexical analysis using the software Interface de R pour les Analyze Multidimensionnielles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ). Ethical guidelines were respected. Results:
A total of 80 children were recruited, with 40 allocated to each group. There was a prevalence of males (70%) with an average age of eight months under observation at the PER (86.2%) due to bronchiolitis (56.2%), with respiratory syncytial virus (52.2%) and using a high-flow nasal catheter (36.2%) or nasal catheter (36.2%). Dipyrone was the main drug used orally in both groups. On average, the children were immersed in a bath with water at a temperature of 38.5°C and emerged after seven minutes at a temperature of 36.7°C. The intervention was carried out mainly by the mother (52.5%). We observed that both groups started the study with severe pain. Nevertheless, the GI showed a faster and more pronounced drop in the pain score at different moments of reassessment, with only one child scoring at the end of the follow-up (p<0.001). The same finding was obtained when assessing the isolated parameters of the NIPS and FLACC scale (p<0.05). In the total sample, we noted that time reduced children's pain, regardless of the characterization variable. Yet, children with bocavirus had a lower pain score, while those using a high-flow nasal catheter had a higher pain score. When analyzing the characterization variables and the pain score in the different allocation groups, no influence was detected (no statistical difference). Sixteen mothers wrote their opinions regarding the therapeutic bath, reporting the following benefits: relief from pain and respiratory symptoms, the childs falling asleep, comfort, tranquility, and collaboration. They also reported a transition from their feeling of helplessness to a feeling of inclusion and satisfaction. According to the mothers, the therapeutic bath was seen as an innovative intervention, and they recommended it. Conclusion:
The therapeutic bath, associated with analgesic medication, is an effective intervention in relieving the pain of children hospitalized with respiratory problems. It provides a greater effect compared to analgesic medication alone, and the mothers' recognition of its value increases the strength of its recommendation. The intervention shows the pioneering spirit, potential and capacity for innovation of nurses, with the redefinition of a hygiene intervention, common in practice, to a non-pharmacological intervention for pain relief. Brazilian Clinical Trials Registry:
U1111-1274-3262