Controlo da dor e dispneia da pessoa com doença oncológica no serviço de urgencia
Publication year: 2015
A pessoa com doença oncológica experiencia, nas diferentes etapas de
sobrevivência, diferentes magnitudes de sintomas, com efeitos nefastos na
qualidade de vida, estado funcional e auto-cuidado. A dor oncológica e a dispneia,
assumem um lugar de destaque em múltiplos estudos anteriores, por
representarem o cluster symptoms indutor de maior ansiedade e fadiga, bem
como são o motivo mais frequente para a procura do serviço de urgência.
Todavia, neste contexto continua a predominar uma cultura de opiodofobia,
oligoanalgesia e subtratamento de sintomas, corroborado em um diagnóstico de
situação, que revela práticas desviantes da leges artis. Deste modo, pretendeu-se
desenvolver a perícia no controlo sintomático em múltiplos locais de ensino
clínico, delinear linhas orientadoras de boa prática e mobilizar a equipa de
enfermagem do presente serviço de urgência para a otimização do alívio da dor
oncológica e dispneia. Para tal efeito, construiu-se uma bateria de
recomendações, mediante revisão sistemática da literatura, submetida a Técnica
de Delphi, realizada em duas rondas, com inclusão de 16 peritos em cada uma,
para validação na realidade portuguesa. Consecutivamente, elaborou-se um
plano de formação dirigido aos enfermeiros suportado nas fragilidades
detectadas, com partilha das guidelines produzidas, com repercussão na melhoria
dos padrões de qualidade pós-formação: avaliação das características da dor (0–
49%), re-avaliação da dor (54,4%–72,7%), documentação de estratégias não
farmacológicas no controlo da dispneia (0–85,7%), utilização de opióides fracos
na dor moderada (14,3%–75%), utilização de ópiodes fortes na dor severa (25%–
66,6%), redução na seleção da via endovenosa (78,9%–52,3%), intra-muscular
(10,5%–4,8%), preferência pela via oral (5,3%–33,3%) e introdução de outras vias
não invasivas transdérmica (4,8%). Para garantir a continuidade de cuidados foi
criado um protocolo de referenciação intra-hospitalar, em parceria com a Unidade
Multidisciplinar de Dor, partilhado o Guia de Boa Práticas, Tabela de Equianalgesia de Opióides, em suporte papel e digital com os pares e identificadas
novas estratégias para intervenção futura. Estes resultados confirmam os
pressupostos do Modelo da Eficácia do Papel de Enfermagem, desenvolvido por
Irvine, Sidani & Hall (1998) e Doran (2011), demonstrando que o controlo
sintomático é um resultado sensível aos cuidados de enfermagem. Para além do
imprescindível contributo no desenvolvimento de competências para o perfil de
enfermeiro especialista, demonstra que, a prática baseada na evidência, os
cuidados centrados na pessoa, a formação em serviço, a auditoria e devolução de
feedback, têm tradução no empowerment da profissão, segurança/ gestão do
risco clínico, excelência dos cuidados e controlo da dor oncológica e dispneia
The person with cancer experienced in the different stages of survival, different
magnitudes of symptoms, with adverse effects on quality of life, functional status
and self-care. Cancer pain and dyspnea, take a prominent place in multiple
previous studies, represent the cluster symptoms inducing greater anxiety and
fatigue, and are the most frequent reason for seeking emergency department.
However, in this context continues to dominate an opiodofobia culture,
oligoanalgesia and undertreatment of symptoms, corroborated in a diagnostic
situation that shows deviant practices of the leges artis. Thus, the aim was to
develop expertise in the symptomatic control in multiple locations of clinical
training, outlining guidelines for good practice and mobilize the nursing team of
this emergency service for the optimization of cancer pain relief and dyspnea. To
this end, has built a battery of recommendations by systematic literature review,
submitted the Delphi Technique, conducted in two rounds, with the inclusion of 16
experts each, for validation in the portuguese reality. It was prepared a training
plan addressed to the nurses supported on detected weaknesses, with sharing of
guidelines produced, with a consequent improvement in quality standards, after
training: evaluation of the characteristics pain (0-49%), re-assessment of pain
(54.4%-72.7%), documentation of non-pharmacological strategies in the
management of dyspnea (0 to 85.7%), use of weak opioids in moderate pain
(14.3%-75%), use of strong opioids in severe pain (25%-66.6%), reduction in
selecting the intravenous route (78.9%-52.3%), intramuscular (10.5%-4.8%),
preference by the oral route (5.3%-33.3%) and introduction of other noninvasive
routes: transdermal (4.8%). To ensure continuity of care an intra-hospital referral
protocol was created in partnership with the Multidisciplinary Unit of Pain, shared
the Guide to Good Practice, Table Equianalgesic opioids, in paper and digital with
peers and identified new strategies for future intervention. These results confirm
the assumptions of Model Role of the Effectiveness of Nursing developed by
Irvine, Sidani & Hall (1998) and Doran (2011), demonstrating that the symptomatic
control is a nursing sensitive outcome. Beyond the indispensable contribution in
the development of competencies for nurse specialist profile, shows that evidencebased practice, person-centered care, educational, audit and feedback of
practices have translation in the profession empowerment, safety/ management of
clinical risk, excellence of care and control of cancer pain and dyspnea.