Publication year: 2025
Introdução:
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, com potencial para causar incapacidades físicas progressivas caso não seja diagnosticada e tratada precocemente. O acesso desigual aos serviços de saúde, a taxa de endemicidade e fatores sociodemográficos impactam os desfechos clínicos na Rede de Atenção à Saúde (RAS). Objetivo:
Analisar a efetividade do diagnóstico precoce, tratamento imediato e controle das incapacidades físicas da hanseníase na RAS/MG. Metodologia:
Estudo analítico ecológico de séries temporais, com dados de casos novos de hanseníase notificados no Sinan (2014-2023). As informações demográficas foram obtidas do DATASUS e IBGE, e as unidades notificadoras do CNES. A análise foi realizada no Microsoft Excel e Stata/IC 16.0, com regressão logística multivariada e modelos de PraisWinsten para avaliação de tendências temporais (nível de significância: 5%). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFMG. Resultados:
No período analisado, 10.402 casos novos foram diagnosticados. O diagnóstico precoce manteve-se estacionário, com predomínio de início do tratamento <2 dias (estacionário) e >2 dias (decrescente). O controle das incapacidades mostrou tendência decrescente. O sexo masculino teve maior risco de diagnóstico tardio, enquanto o feminino apresentou maior probabilidade de diagnóstico precoce e início imediato do tratamento. No entanto, homens tiveram melhores resultados na recuperação das incapacidades. Indivíduos autodeclarados pretos e pardos tiveram menor acesso ao diagnóstico precoce, mas maior chance de piora do Grau de Incapacidade Física (GIF). Já os brancos, apresentaram maior chance de diagnóstico precoce e tratamento imediato, mas menor melhora. Pacientes com Ensino Superior Incompleto tiveram maior chance de tratamento imediato e menor risco de diagnóstico tardio em comparação aos de baixa escolaridade. Casos diagnosticados e tratados em microrregiões de saúde diferentes da residência apresentaram mais diagnósticos tardios e maior piora do GIF, enquanto os diagnosticados na mesma microrregião tiveram maior recuperação. Microrregiões de Saúde de Residência "altas" em detecção tiveram mais diagnósticos precoces, enquanto as "baixas" apresentaram maior taxa de início imediato do tratamento. As "hiperendêmicas" e "muito altas" registraram maior proporção de diagnóstico tardio. No controle das incapacidades, as microrregiões "muito altas" mostraram maior chance de “melhora” e menor risco de “piora”. A Atenção Primária foi associada a maior chance de diagnóstico precoce, enquanto à Atenção Secundária e Terciária apresentaram mais diagnósticos tardios. O tratamento imediato foi mais eficaz na Atenção Secundária e Terciária, enquanto a Atenção Primária teve melhor controle das incapacidades. Já a Atenção Terciária apresentou pior desempenho na recuperação funcional. Conclusão:
Há desafios na efetividade da RAS/MG para a detecção precoce da hanseníase e no acesso equitativo ao tratamento. Apesar da melhora no controle das incapacidades, persistem desigualdades entre pontos de atenção e microrregiões de saúde. Fortalecer a atenção primária como coordenadora da RAS, descentralizar serviços e capacitar profissionais são estratégias essenciais para otimizar a resposta ao agravo.
Introduction:
Leprosy is a chronic infectious disease caused by Mycobacterium leprae, with the potential to cause progressive physical disabilities if not diagnosed and treated early. Unequal access to health services, the endemicity rate and sociodemographic factors have an impact on clinical outcomes in the Health Care Network (RAS/MG). Objective:
To analyze the effectiveness of early diagnosis, immediate treatment and control of leprosy physical disabilities in the RAS/MG. Methodology:
This is an analytical ecological time series study using data on new leprosy cases notified on Sinan (2014-2023). Demographic information was obtained from DATASUS and IBGE, and the notifying units from CNES. The analysis was carried out using Microsoft Excel and Stata/IC 16.0, with multivariate logistic regression and Prais-Winsten models to assess temporal trends (significance level: 5%). The study was approved by the UFMG Research Ethics Committee. Results:
In the period analyzed, 10,402 new cases were diagnosed. Early diagnosis remained stationary, with a predominance of treatment initiation <2 days (stationary) and >2 days (decreasing). Disability control showed a downward trend. Men had a higher risk of late diagnosis, while women had a higher probability of early diagnosis and immediate treatment initiation. However, men had better results in disability recovery. Self-declared black and brown individuals had less access to early diagnosis, but a greater chance of worsening the degree of physical disability (GIF). Whites, on the other hand, had a greater chance of early diagnosis and immediate treatment, but less chance of recovery. Patients with incomplete higher education had a higher chance of immediate treatment and a lower risk of late diagnosis compared to those with lower education. Cases diagnosed and treated in health micro-regions other than their home had more late diagnoses and a greater worsening of GIF, while those diagnosed in the same micro-region had a greater recovery. Health micro-regions of residence “high” in detection had more early diagnoses, while “low” micro-regions had a higher rate of immediate treatment initiation. The “hyperendemic” and “very high” regions had a higher proportion of late diagnosis. In terms of disability control, the “very high” micro-regions showed a greater chance of ‘improvement’ and a lower risk of “worsening”. Primary care was associated with a greater chance of early diagnosis, while secondary and tertiary care showed more late diagnoses. Immediate treatment was more effective in secondary and tertiary care, while primary care had better control of disabilities. Tertiary care, on the other hand, performed worse in terms of functional recovery. Conclusion:
There are challenges in the effectiveness of the RAS/MG for the early detection of leprosy and equitable access to treatment. Despite the improvement in disability control, inequalities persist between points of care and health micro-regions. Strengthening primary care as the coordinator of the RAS/MG, decentralizing services and training professionals are essential strategies for optimizing the response to the disease.