Publication year: 2024
Introdução:
as políticas públicas de saúde materno-infantil no Brasil, ainda que bem estruturadas, continuam a ser desafiadas pelos altos índices de incidência e prevalência da sífilis congênita. A intersubjetividade das mães que vivenciaram o diagnóstico de sífilis congênita de seus filhos pode prejudicar o desenvolvimento de competências parentais, dificultando que elas ofereçam cuidados sensíveis às crianças. Objetivo:
compreender a vivência que mães atribuem à experiência do diagnóstico de sífilis congênita do filho e sua interface coma parentalidade. Método:
estudo qualitativo, fundamentado na fenomenologia social de Alfred Schütz; realizado com a participação de 12 mães que pertencem a três municípios Sedes de Região de Saúde que compõem o Grupo de Vigilância Epidemiológica de Jales/São Paulo e que tiveram seus filhos com diagnóstico de sífilis congênita internados e acompanhados pelo serviço de saúde. Utilizou-se a entrevista fenomenológica para obtenção dos dados, com a seguinte questão de pesquisa: Qual vivência que as mães atribuem à experiência do diagnóstico da criança com sífilis congênita e sua interface com a parentalidade? As entrevistas foram realizadas no domicílio ou na unidade de saúde conforme preferência da mãe após a aprovação do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (Parecer nº 5.833.941). As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Resultados:
as vivências que as mães atribuíram à experiência de ter um filho diagnosticado com sífilis congênita remetem a uma ressignificação de sua percepção sobre ser mãe e sobre as competências parentais de uma boa mãe. As vivências de um filho com sífilis congênita dessas mães se apresentam como sentimento de culpa, de responsabilidade pela dor infringida ao filho pelo tratamento médico doloroso que a sífilis congênita provoca, pela capacidade de construir a parentalidade e prestar os cuidados necessários à saúde da criança. As mães também se preocupam com o preconceito e a estigmatização que, na vivência delas, ainda são perceptíveis quando se trata de uma doença sexualmente transmissível. Tal vivência se expressa como uma preocupação com o futuro e aponta a importânciade uma rede social de apoio para superar esse estigma e garantir o exercício de competências parentais positivas. A busca das mães por informações sobre a doença é outro ponto importante dessa vivência, pois elas acreditam que, com maior conhecimento, podem enfrentar com mais força e sabedoria o problema do filho, podem diminuir os medos e anseios sobre a saúde e prover o cuidado a si próprias e a seu filho. Considerações finais:
a vivência das mães que tiveram filhos com sífilis congênita impactou a construção de competências parentais, tornando-as inseguras quanto a seu potencial para cuidar da criança. Destarte, é fundamental que os profissionais de saúde que cuidam dessas mães e dos filhos destas estabeleçam uma interação positiva com elas e com suas famílias durante internação e tratamento dessas crianças, tendo em vista o fortalecimento do relacionamento mãe-criança e das competências parentais. Propõe-se o desenvolvimento de mais estudos sobre o impacto das vivências das mães com sífilis congênita nas competências parentais e que estas pesquisas possam incorporar políticas públicas voltadas à sífilis congênita no âmbito da saúde materno-infantil. Espera-se que este estudo possa contribuir para a ampliação da prática do enfermeiro nos cuidados com a mãe e a criança com diagnóstico de sífilis congênita, de forma a incluir abordagens que fortaleçam as competências parentais.
Introduction:
While well structured, the public policies for maternal and child health in Brazil continue to be challenged by the high incidence and prevalence of congenital syphilis. The intersubjectivity of mothers who have experienced the diagnosis of congenital syphilis in their children can hinder the development of parenting skills, making it difficult for them to offer sensitive care to children. Objective:
To understand the experience that mothers attribute to the experience of their child's diagnosis of congenital syphilis and its interface with parenting. To understand the experience that mothers attribute to the experience of their child's diagnosis of congenital syphilis and its interface with parenting. Method:
A qualitative study based on the social phenomenology of Alfred Schütz; carried out with the participation of 12 mothers from three municipalities that make up the Jales/São Paulo Epidemiological Surveillance Group and who had their children diagnosed with congenital syphilishospitalized and monitored by the health service. Phenomenological interviews were used to obtain the data, with the following research question: What experience do mothers attribute to the experience of diagnosing a child with congenital syphilis and its interface with parenting? The interviews were carried out at home or at the health unit, according to the mother's preference, afterthe project had been approved by the Ethics and Research Committee of the University Hospital ofthe University of São Paulo (Report No. 5.833.941). The interviews were recorded and transcribedin full. Results:
the experiences that the mothers attributed to the experience of having a child diagnosed with congenital syphilis refer to a reframing of their perception of "being a mother" and of the parenting skills of a "good mother". These mothers' experiences of a child with congenital syphilis are presented as feelings of guilt, of responsibility for the pain inflicted on their child by the painful medical treatment that congenital syphilis causes, due to the ability to build parenthood and provide the necessary care for the child's health. The mothers are also concerned about the prejudice and stigmatization that, in their experience, are still noticeable when it comes to a sexually transmitted disease. Such experience is expressed as a concern for the future and points to the importance of a social support network to overcome this stigma and guarantee the exercise of positive parenting skills. The mothers' search for information about the disease is another importantpoint in this experience, as they believe that, with greater knowledge, they can face their child's problem with more strength and wisdom, they can reduce their fears and anxieties about health, andprovide care for themselves and their child. Final considerations:
the experience of mothers who had children with congenital syphilis had an impact on the construction of parenting skills, making them insecure regarding their potential to care for the child. Therefore, it is fundamental that the health professionals who care for these mothers and their children establish a positive interaction with them and their families during the hospitalization and treatment of these children, intending to strengthen the mother-child relationship and parenting skills. It is proposed that further studies should be carried out on the impact of the experiences of mothers with congenital syphilis on parenting skills and that these researches can incorporate public policies aimed at congenital syphilis in the context of maternal and child health. It is expected that this study can contribute to the expansion of the practice of nurses in caring for mothers and children diagnosed with congenitalsyphilis, to include approaches that strengthen parenting skills.