A percepção de usuários sobre o cuidado produzido pelas equipes de Estratégia Saúde da Família e sua relação com a atenção centrada na pessoa, família e comunidade no contexto da Atenção Primária à Saúde
Patients' perception of care provided by family health strategy teams and its relationship with person, family and community centered care

Publication year: 2023

Introdução:

No contexto da Atenção Primária à Saúde (APS) o trabalho em equipe e prática interprofissional colaborativa tem se consolidado como proposta de organização da atenção à saúde frente à complexidade dos problemas de saúde da população, as mudanças do perfil demográfico e epidemiológico com prevalência das doenças crônicas e o reconhecimento da integralidade do cuidado à saúde. A atenção centrada na pessoa destaca-se nesse caminho ao buscar inserir os usuários como sujeitos do seu cuidado, parceiros ativos que participam no redesenho dos sistemas de saúde.

Objetivo:

Analisar concepções e experiências de usuários com percepções favoráveis dos atributos de APS nas equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) a que estão adscritos sobre o cuidado à saúde produzido pelas equipes e suas relações com atenção centrada no usuário, família e comunidade.

Método:

estudo qualitativo desenvolvido com usuários adscritos a equipes de ESF no município de São Paulo realizado em duas fases: a fase 1 com dados secundários proveniente de pesquisa anterior a qual este estudo está vinculado e a fase 2 com dados primários de entrevistas semiestruturadas. Na fase 1 foram transcritas e analisadas 172 entrevistas com usuários feitas por telefone, gravadas, e aplicação do Primary Care Assessment Tool PCATool-Brasil-adulto-reduzida, que além dos dados quantitativos continha narrativas dos participantes sobre os temas abordados. Na fase 2 foram realizadas entrevistas com dez usuários de equipes de ESF para aprofundamento da compreensão do objeto de estudo. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo.

Resultados:

observamos, de um lado, o predomínio da percepção e experiência dos usuários sobre o cuidado centrado no profissional médico, com as equipes de ESF distantes do trabalho em equipe e colaboração interprofissional, que considera o usuário como parceiro no cuidado. Por outro lado, também predomina na experiência dos usuários o reconhecimento que a humanização, a interação entre usuário e profissionais das equipes e a empatia, qualificam o cuidado à saúde. Os usuários relatam dificuldade de acesso aos profissionais das equipes de ESF, com prejuízos na continuidade do cuidado, gerando impacto no seu acompanhamento. Apesar da centralidade do cuidado no médico, o agente comunitário de saúde é reconhecido pelos usuários como elo de comunicação entre o território e as equipes e a enfermeira como provedora da continuidade do cuidado para os pacientes com doenças crônicas, fortalecendo os atributos da APS. Com os cuidados orientados à dimensão biológica, percebe-se dificuldade na inclusão da família e nesta perspectiva também a ausência da visão coletiva nas práticas das equipes e frágil inserção do usuário na construção das práticas da unidade básica de saúde.

Conclusão:

A participação do usuário é incipiente, tanto na tomada de decisão sobre seu cuidado como nas instâncias de controle social, evidenciando a fragilidade da atenção centrada no usuário, família e comunidade. Os resultados contribuem para a compreensão da relação dos atributos da APS com a atenção centrada na perspectiva do usuário, trazendo subsídios para a reorganização dos serviços de APS de modo a atender as necessidades de saúde da população com fortalecimento da participação social.

Introduction:

In the context of Primary Health Care (PHC), teamwork and collaborative interprofessional practice have been consolidated as a proposal for organizing health care in the face of the complexity of the population's health problems, changes in the demographic and epidemiological profile with the prevalence of chronic non-communicable diseases and the recognition of comprehensive health care. Person-centered care stands out on this path as it seeks to include users as subjects of their care, active partners who play a fundamental role in redesigning health systems.

Aims:

To analyze the conceptions and experiences of users with favorable perceptions of the PHC attributes of the Family Health Strategy teams to which they are affiliated about the health care produced by the teams and their relationship with user, family and community-centered care.

Method:

a qualitative study carried out with users enrolled in ESF teams in the city of São Paulo, in two phases: phase 1 with secondary data from previous research to which this study is linked, and phase 2 with primary data from semi-structured interviews. In phase 1, 172 recorded telephone interviews with users were transcribed and analyzed, along with the application of the Primary Care Assessment Tool- PCATool-Brazil, which in addition to quantitative data contained participants' narratives on the topics covered. In phase 2, interviews were carried out with ten users of ESF teams to gain a deeper understanding of the object of study. The data was submitted for content analysis.

Results:

we observed, on one side, a predominance of users' perception and experience of care centered on the medical professional and the teams far removed from a that considers the user as a partner in care. On another side, users reported difficulty in accessing the professionals in the teams, which affected continuity of care and had an impact on their follow-up. Despite the centrality of care for the doctor, the community health worker is recognized by users as the communication link between the territory and the teams, and the nurse as the provider of continuity of care for patients with chronic illnesses, strengthening the attributes of PHC. With care orientated towards the biological dimension, it is difficult to include the family and, from this perspective, there is also an absence of a collective vision in the teams' practices and a weak inclusion of the user's vision in the construction of the basic health unit's practices.

Conclusion:

There are few user's participations in decision-making about their care and in instances of social control, highlighting the fragility of user-, family- and community-centered care. The results of this study contribute to understanding the correlation between PHC attributes and user, family, and community-centered care from the user's perspective, providing support for reorganizing PHC services to meet the population's health needs while strengthening social participation.