Transferências maternas em uma casa de parto: resultados maternos e neonatais
Free-standing birth center maternal transfers: maternal and neonatal outcomes

Publication year: 2024

Introdução:

A criação de centros de parto normal foi uma estratégia para qualificar a assistência obstétrica, pois no Brasil as taxas de cesarianas são altas e o parto normal é carregado de intervenções excessivas. Porém, a segurança do parto em centro de parto normal perihospitalar (CPNp), também denominado casa de parto, é questionada e falta consenso entre as organizações nacionais sobre a recomendação desse modelo de assistência.

Objetivo:

Analisar as transferências maternas do CPNp para o hospital.

Método:

Estudo transversal, realizado no CPN Casa Angela-Centro de Parto Humanizado, em São Paulo, SP. Foram incluídas as 3.397 mulheres admitidas para o parto, de 2012 a 2021. A fonte de dados foram o banco de dados da instituição e os prontuários das mulheres. As condições sociodemográficas, clínicas e obstétricas foram consideradas como exposição. Como desfecho primário, foi considerada a transferência materna para a instituição hospitalar. Como desfechos secundários, foram considerados: tipo de parto, escores de Apgar, contato mãe-bebê, amamentação na 1ª hora de vida, acompanhante no parto, condições do períneo e intercorrências maternas e neonatais após a transferência. A população foi separada em três grupos, conforme o desfecho (sem transferência, transferência intraparto e transferência pós-parto) e os dados foram analisados por estatística descritiva, com adoção de um modelo de regressão logística nominal. Os resultados do modelo são expressos em razão de chances (OR). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

Resultados:

A taxa de transferência intraparto foi de 19,2% e pós-parto foi 2,6%. Os fatores que aumentaram a chance de transferência intraparto foram idade materna em anos (OR=1,07), união conjugal estável (OR=1,99), indução do parto com métodos naturais (OR=2,12) e amniotomia (OR=2,94). Maior número de partos vaginais anteriores (OR=0,18), permanecer na banheira no trabalho de parto (OR=0,446) e maior número de acompanhantes (OR=0,65) reduziram essa chance. Os fatores que aumentaram a chance de transferência pós-parto foram laceração perineal de 3º grau (OR=563,73) e hemorragia pós-parto (HPP) (OR=38,51). Permanecer na banheira no trabalho de parto (OR=0,39) e maior número de consultas pré-natal no CPNp (OR=0,84) reduziram essa chance. As principais indicações de transferência intraparto foram alteração dos batimentos cardíacos fetais (33,6%), parada de progressão (27,2%), bolsa rota prolongada (18,3%) e solicitação materna (9,2%) e de transferência pósparto foram anemia (24,0%), retenção placentária (20,7%), HPP (9,2%) e pico hipertensivo (9,2%). Permaneceram na unidade de terapia intensiva (UTI) 0,2% das mulheres transferidas intraparto e 3,6% das transferidas pós-parto. A taxa de cesariana entre as transferidas foi 43%, 97,4% dos bebês nascidos no hospital tiveram Apgar 7 no 5º minuto e 7,3% permaneceram na UTI.

Conclusão:

Os desfechos no hospital após a transferência reforçam a segurança do modelo de assistência no CPNp. Conhecer os fatores associados com transferências maternas pode prevenir essa ocorrência e suas complicações e pode contribuir para aumentar as taxas de parto normal no Brasil.

Introduction:

The creation of birth centers was a strategy to qualify midwifery care, as in Brazil, cesarean section rates are high and normal birth occurs with excessive interventions. However, the safety of childbirth in a free-standing birth center (CPNp) is questioned, and there is a lack of consensus among national organizations regarding the recommendation of this model of care.

Objective:

To analyze the maternal transfers from CPNp to the hospital.

Method:

Cross-sectional study conducted at CPNp Casa Angela-Centro de Parto Humanizado, in São Paulo, SP. The 3,397 women admitted for childbirth from 2012 to 2021 were included. The data source was the database and the women's medical records. Sociodemographic, clinical, and obstetric conditions were considered as exposure. Maternal transfer to the hospital was considered the primary outcome. The secondary outcomes were the type of birth, Apgar scores, mother-baby contact, breastfeeding in the 1st hour of life, companionship at birth, conditions of the perineum, and maternal and neonatal complications after transfer. The population was separated into three groups according to the outcome (without transfer, intrapartum transfer, and postpartum transfer), and the data were analyzed using descriptive and adopting a nominal logistic regression model. The model results are expressed as odds ratios (OR). The Research Ethics Committee of the School of Nursing of the University of São Paulo approved the project.

Results:

The intrapartum transfer rate was 19.2%, and the postpartum transfer rate was 2.6%. The factors that increased the chance of intrapartum transfer were maternal age in years (OR=1.07), stable marital union (OR=1.99), induction of labor with natural methods (OR=2.12) and amniotomy (OR=2.94). A greater number of previous vaginal births (OR=0.18), remaining in the bathtub during labor (OR=0.44) and a greater number of companions (OR=0.65) reduced this chance. Factors that increased the chance of postpartum transfer were 3rd-degree perineal laceration (OR=563.73) and postpartum hemorrhage (PPH) (OR=38.51). Staying in the bathtub during labor (OR=0.39) and more prenatal consultations at CPNp (OR=0.84) reduced this chance. The main indications for intrapartum transfer were changes in fetal cardio beats (33.6%), arrest of progression (27.2%), prolonged rupture of the pouch (18.3%), and maternal request (9.2%) and postpartum transfer were anemia (24.0%), placental retention (20.7%), PPH (9.2%), and hypertensive peak (9.2%). Among the women transferred intrapartum and postpartum, 0.2% and 3.6% remained in the intensive care unit (ICU), respectively. The cesarean section rate among those transferred was 43%; 97.4% of babies born in the hospital had Apgar 7 at the 5th minute, and 7.3% remained in the ICU.

Conclusion:

Outcomes in the hospital after transfer reinforce the safety of the CPNp care model. Knowing the factors associated with maternal transfers can prevent this occurrence and its complications and can contribute to increasing normal birth rates in Brazil.