Importância Atribuída à Participação da Família na Prestação de Cuidados - Atitudes dos Enfermeiros
Publication year: 2025
A participação da família nos cuidados de saúde assume um papel de destaque na literatura e na prática da enfermagem, justificado pela interconexão com os diversos aspetos que influenciam a qualidade e a humanização da prestação de cuidados. Este estudo teve como objetivo principal relacionar a formação em enfermagem comunitária, na área de enfermagem de saúde familiar com perceção das atitudes dos enfermeiros em relação à importância da participação da família nos cuidados. Apoiamo-nos numa metodologia quantitativa, estudo observacional descritivo, correlacional e transversal, tendo como população alvo os enfermeiros que exercem funções em Portugal. Para seleção da amostra recorreu-se à técnica de amostragem não probabilística por redes (“bola de neve"). Para colheita de dados, foi disseminado, entre 5 de dezembro de 2023 até 1 de abril de 2024, um questionário online, dividido em duas partes: caracterização sociodemográfica e profissional da amostra e escala da importância das famílias nos cuidados de enfermagem - atitudes dos enfermeiros (IFCE-AE). O estudo teve parecer favorável da comissão de ética do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Obtiveram-se 1007 respostas, validando-se 989. Os dados foram tratados com recurso ao suporte informático, R® versão 4.2.1. Da análise dos dados verificou-se que os enfermeiros da amostra possuem perceção de atitudes de suporte em relação às famílias e promovem a sua inclusão nos cuidados de enfermagem (81,49, em 104 pontos possíveis na escala). Também se identificou uma correlação significativa entre as variáveis sociodemográficas (estado civil, sexo, região onde exerce funções e idade), profissionais (local de trabalho, categoria profissional, tempo de serviço profissional, tempo de serviço na categoria profissional e experiência em cuidados de saúde primários), formação (habilitações literárias, especialidade e formação em Enfermagem de Saúde Familiar) e de contexto (experiência como cuidador) e a perceção das atitudes dos enfermeiros em relação à participação da família nos cuidados. Verificou-se uma relação estatisticamente significativa do variável sexo, com a perceção das atitudes nas dimensões 1 “parceiro dialogante e recurso a coping” (p=0,028), 2 “Família recurso nos cuidados de enfermagem” (p=0,032) e no score total (p=0,025). Em relação à idade, verificaram-se diferenças significativas nas dimensões 1 “parceiro dialogante e recurso a coping” (p<0,001), 2 “família recurso nos cuidados de enfermagem” (p=0,004), 3 “família como um fardo” (p<0,001) e no score total (p=0,009). O estado civil dos enfermeiros também apresentou diferenças estatisticamente significativas na perceção das atitudes em relação às dimensões 1 “parceiro dialogante e recurso a coping” (p=0,0003) e 3 “família como um fardo” (p<0,001). Quanto ao local de trabalho, verificaram-se diferenças significativas em todas as dimensões e no score total (p<0,001). O tipo de especialidade dos enfermeiros obteve uma relação significativa com a perceção das atitudes nas dimensões 1 “parceiro dialogante e recurso a coping”, 2 “família recurso nos cuidados de enfermagem” e no score total (p<0,001). Os enfermeiros com formação na área de Enfermagem de Saúde Familiar demonstraram ter uma perceção das atitudes mais favoráveis em comparação com os enfermeiros que não detêm essa formação, conforme evidenciado pelos scores médios (D1: 41,5; D2: 34,9; D3: 7,5; e score total: 83,8). Os resultados indicam ainda que ser cuidador de um familiar num processo de doença prolongado relaciona-se significativamente com a perceção das atitudes dos enfermeiros, nas dimensões 1 “parceiro dialogante e recurso a coping” (p=0,002), 2 “família recurso nos cuidados de enfermagem” (p=0,013) e no score total (p=0,005). Não foi observada relação estatisticamente significativa entre o apoio familiar e a perceção das atitudes dos enfermeiros sobre a importância da participação da família nos cuidados (p>0,05), nem entre o tipo de formação e a perceção dessas atitudes. Também se verificou que a experiência em cuidados de saúde primários não se relaciona com a perceção das atitudes dos enfermeiros em ambiente hospitalar, mas sim trabalhar em ambiente hospitalar ou unidades de cuidados de saúde primários. Este estudo parece evidenciar a importância da formação na área de saúde familiar, na perceção das atitudes dos enfermeiros, uma vez que os resultados apontam para uma influência positiva da formação para a inclusão da família durante a prestação de cuidados, quando comparado com enfermeiros sem formação na área.
Family participation in health care plays a prominent role in nursing literature and practice, justified by the interconnection with the various aspects that influence the quality and humanization of care provision. The main objective of this study was to relate community nursing training, in the area of family health nursing, with the perception of nurses' attitudes regarding the importance of family participation in care. We used a quantitative methodology, a descriptive, correlational, and cross-sectional observational study, with nurses working in Portugal as the target population. The sample was selected using the non-probabilistic network sampling technique (“snowball”). To collect data, an online questionnaire was disseminated between December 5, 2023, and April 1, 2024, divided into two parts: sociodemographic and professional characterization of the sample and the scale of the importance of families in nursing care - nurses' attitudes (IFCE-AE). The study received a favorable opinion from the ethics committee of the Polytechnic Institute of Bragança (IPB). A total of 1007 responses were obtained, of which 989 were validated. The data was processed using computer support, R® version 4.2.1. From the analysis of the data, it was found that the nurses in the sample have a perception of supportive attitudes towards families and promote their inclusion in nursing care (81.49, out of 104 possible points on the scale). A significant correlation was also identified between sociodemographic variables (marital status, gender, region where they work and age), professional variables (workplace, professional category, length of professional service, length of service in the professional category and experience in primary health care), training (educational qualifications, specialty and training in Family Health Nursing) and context (experience as a caregiver) and the perception of nurses' attitudes towards family participation in care. A statistically significant relationship was found between the gender variable and the perception of attitudes in dimensions 1 “dialogue partner and use of coping” (p=0.028), 2 “Family as a resource in nursing care” (p=0.032), and the total score (p=0.025). Regarding age, significant differences were found in dimensions 1 “dialogue partner and use of coping” (p<0.001), 2 “family as a resource in nursing care” (p=0.004), 3 “family as a burden” (p<0.001) and in the total score (p=0.009). The marital status of the nurses also showed statistically significant differences in the perception of attitudes in relation to dimensions 1 “dialogue partner and use of coping” (p=0.0003) and 3 “family as a burden” (p<0.001). Regarding the workplace, significant differences were found in all dimensions and in the total score (p<0.001). The type of specialty of the nurses had a significant relationship with the perception of attitudes in dimensions 1 “dialogue partner and use of coping”, 2 “family as a resource in nursing care” and in the total score (p<0.001). Nurses trained in the area of Family Health Nursing demonstrated that they had a more favorable perception of attitudes compared to nurses who did not have this training, as evidenced by the average scores (D1: 41.5; D2: 34.9; D3: 7.5; and total score: 83.8). The results also indicate that being a caregiver for a family member in a prolonged illness process is significantly related to the perception of nurses' attitudes, in dimensions 1 "dialogue partner and resource for coping" (p=0.002), 2 "family as a resource in nursing care" (p=0.013) and in the total score (p=0.005). No statistically significant relationship was observed between family support and the perception of nurses' attitudes regarding the importance of family participation in care (p>0.05), nor between the type of training and the perception of these attitudes. It was also found that experience in primary health care is not related to the perception of nurses' attitudes in a hospital environment, but working in a hospital environment or primary health care units is. This study appears to highlight the importance of training in the area of family health, in the perception of nurses' attitudes, since the results point to a positive influence of training for the inclusion of the family during the provision of care, when compared to nurses without training in the area.