Elegibilidade e interrupção do acompanhamento pré-natal em centro de parto normal peri-hospitalar: estudo transversal
Eligibility and interruption of prenatal care in a free-standing birth center: cross-sectional study

Publication year: 2024

Introdução:

A gestação, parto e nascimento são momentos muito importantes na vida das mulheres e suas famílias, sendo essencial um bom acompanhamento pré-natal. Escolher o tipo e local de parto deve ser encorajado pelos profissionais de saúde que acompanham a gestante. O centro de parto normal perihospitalar (CPNp), também conhecido como casa de parto, é uma opção para as mulheres de baixo risco que desejam um parto normal humanizado. Nesses locais, a assistência é feita por enfermeiras obstetras e obstetrizes. No Brasil, as mulheres possuem difícil acesso ao modelo, são poucos os CPNp e a maioria das gestantes desconhece a opção. Com a pandemia por COVID-19, o parto em CPNp passou a ser cogitado, por menor risco de contaminação em relação aos hospitais. O problema é que, ao optar por fazer o acompanhamento no CPNP, a maioria das gestantes não chega até o parto por fatores de risco, escolha pessoal ou fatores institucionais.

Objetivo:

Analisar os fatores relacionados com a elegibilidade e com a interrupção do acompanhamento da mulher durante o pré-natal em um CPNp.

Método:

Estudo transversal, realizado no CPNp Casa Angela, localizado na zona Sul de São Paulo, SP. A população foi constituída por todas as mulheres gestantes que fizeram cadastro para o acompanhamento e parto no CPNp durante o período de janeiro de 2020 a dezembro de 2022. Os desfechos foram elegibilidade para o acompanhamento pré-natal no CPNP e a interrupção do pré-natal entre as mulheres não admitidas para o parto no CPNp. As variáveis de exposição foram idade materna, cor da pele/etnia, número de gestações, escolaridade, renda familiar, residência com companheiro e convênio médico. Foram analisados os motivos para a inelegibilidade e para a interrupção do pré-natal. Para a coleta de dados, foram utilizadas as informações do cadastro das gestantes, do prontuário eletrônico, do banco de dados das gestantes admitidas para o parto e de relatórios administrativos. Os dados foram unificados e organizados em uma planilha Google Sheets, formando um banco de informações. A análise foi realizada mediante estatística descritiva e foi calculada a razão de chance (OR) para as variáveis de exposição. O projeto foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados:

Foram incluídas 9.954 mulheres, das quais, 39,6% (n=4.335) eram elegíveis para o acompanhamento pré-natal; dentre as mulheres que iniciaram o pré-natal no CPNp, 62,9% (n=2.727) tiveram o acompanhamento interrompido. Os principais motivos de não elegibilidade foram cesárea anterior (37,6%), diabetes gestacional (11,0%) e síndrome hipertensiva (9,8%). Para a interrupção do pré-natal, os principais motivos foram síndrome hipertensiva (15,6%), Streptococcus B positivo (13,5%) e pós-datismo > 41 semanas (7,8%). Os fatores que aumentaram a chance de elegibilidade foram maior escolaridade (OR=1,1), maior renda (OR=1,03), etnia asiática (cor da pele amarela) (OR=1,007) ou indígena (OR=1,265) e residir com companheiro(a) (OR=1,784). Maior idade materna (OR=0,997), maior número de gestações (OR=0,844), cor da pele parda (OR=0,926) ou negra (OR=0,926) e ter convenio de saúde (OR=0,653) diminuíram a chance de elegibilidade. Os fatores que aumentaram a chance de interrupção do acompanhamento pré-natal no CPNp foram cor da pele parda (OR=1,229) ou negra (OR=1,333) e etnia indígena (OR=1,453). Maior idade materna (OR=0,995), maior número de gestações (OR=0,9), maior escolaridade (OR=0,925), maior renda (OR=0,963), etnia asiática (OR=0,963), residir com companheiro(a) (OR=0,730) e ter convênio de saúde (OR=0,705) diminuíram a chance de interrupção do pré-natal no CPNp. A busca pelo atendimento no CPNp devido à pandemia de COVID19 foi declarada por 19,2% das mulheres, nos 3 anos.

Conclusão:

Fatores sociodemográficos e história clínica e obstétrica pregressa e atual concorrem para a inelegibilidade e interrupção acompanhamento pré-natal em CPNp.

Introduction:

Pregnancy, labor, and birth are critical moments in the lives of women and their families, and good prenatal care is essential. Choosing the type and place of birth should be encouraged by the health professionals accompanying the pregnant woman. The free-standing birth center (CPNp) is an option for low-risk women who want a humanized normal birth. In these places, care is provided by nurse-midwives and midwives. In Brazil, women have difficult access to the model; there are few CPNp, and most pregnant women are unaware of the option. With the COVID-19 pandemic, births in CPNp began to be considered due to the lower risk of contamination than hospitals. The problem is that, when choosing to undergo follow-up at CPNp, most pregnant women do not make it to birth due to risk factors, personal choice, or institutional factors.

Objective:

To analyze the factors related to eligibility and interruption of women's prenatal care at a CPNp.

Method:

Cross-sectional study carried out at CPNp Casa Angela, located in the south of São Paulo, SP. The population consisted of all pregnant women registered for monitoring and childbirth at the CPNp from January 2020 to December 2022. The outcomes were eligibility for prenatal care at the CPNP and interruption of prenatal care among women not admitted for childbirth at the CPNP. The exposure variables were maternal age, skin color/ethnicity, number of pregnancies, education, family income, living with a partner and medical insurance. The reasons for ineligibility and interruption of prenatal care were analyzed. Information from the pregnant women's registry, electronic medical records, the database of pregnant women admitted for childbirth and administrative reports were used for data collection. The data was unified and organized in a Google Sheets spreadsheet, forming an information bank. The analysis used descriptive statistics, and the odds ratio (OR) was calculated for the exposure variables. The Research Ethics Committee approved the project.

Results:

9,954 women were included, of which 39.6% (n=4,335) were eligible for prenatal care. Among the women who started prenatal care at CPNp, 62.9% (n=2,727) had their prenatal care interrupted. The main reasons for ineligibility were previous cesarean section (37.6%), gestational diabetes (11.0%) and hypertensive syndrome (9.8%). For interruption of prenatal care, the main reasons were hypertensive syndrome (15.6%), positive Streptococcus B (13.5%) and postdating > 41 weeks (7.8%). The factors that increased the chance of eligibility were higher education (OR=1.1), higher income (OR=1.03), Asian ethnicity (yellow skin color) (OR=1.007) or indigenous (OR=1.265) and living with a partner (OR=1.784). Greater maternal age (OR=0.997), a greater number of pregnancies (OR=0.844), brown (OR=0.926) or black (OR=0.926) skin color and having health insurance (OR=0.653) decreased the chance of eligibility. The factors that increased the chance of interrupting prenatal care at CPNp were brown (OR=1.229) or black (OR=1.333), skin color, and indigenous ethnicity (OR=1.453). Higher maternal age (OR=0.995), higher number of pregnancies (OR=0.9), higher education level (OR=0.925), higher income (OR=0.963), Asian ethnicity (OR=0.963), living with a partner (OR=0.730) and having health insurance (OR=0.705) reduced the chance of interrupting prenatal care at CPNp. The search for care at the CPNp due to the COVID-19 pandemic was declared by 19.2% of the women over the 3 years.

Conclusion:

Sociodemographic factors and past and current clinical and obstetric history contribute to ineligibility and interruption of prenatal care in CPNp.