O ensino da humanização do cuidado nas práticas para internos de medicina na estratégia saúde da família: uma abordagem socioclínica institucional

Publication year: 2020

Introdução:

Trata-se de um estudo que tem como objeto o ensino da humanização na formação dos internos de medicina, a ser implementada nas práticas de cuidado da Estratégia Saúde da Família (ESF).

Objetivo geral:

Analisar o ensino da humanização nas práticas de cuidado dos internos de medicina da ESF, com a finalidade de construir coletivamente instrumentos ou ferramentas de ensino-aprendizagem e de qualificação da assistência.

Objetivos específicos:

Identificar o conhecimento dos internos de medicina e preceptores na ESF sobre a Política Nacional de Humanização (PNH). Descrever as abordagens humanizadas do cuidado utilizadas nas práticas de ensino-serviço pelos profissionais preceptores da ESF. Aplicar um dispositivo de formação que permita ampliar o conhecimento dos acadêmicos e preceptores sobre a prática da humanização durante a graduação, produto deste estudo.

Metodologia:

Pesquisa de intervenção, com abordagem qualitativa, realizada nos anos de 2017 a 2020, tomando como referencial teórico-metodológico a Análise Institucional na modalidade socioclínica institucional. Teve como participantes preceptores e internos de medicina que atuavam em cinco unidades da ESF de um município serrano do Rio de Janeiro. Os dispositivos de produção de dados foram três encontros com os participantes e um diário da pesquisadora, para análise de suas implicações. A produção de dados aconteceu após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética, sob o número CAAE 83367918.3.00005245. Os dados produzidos foram submetidos a diversas leituras e, em um primeiro movimento, procurou-se identificar nos depoimentos as características da socioclínica institucional. Novas leituras permitiram identificar três eixos de análise e um analisador emergiu da intervenção, realizando a análise da instituição formação em saúde.

Resultados:

A análise do primeiro eixo colocou em evidência a deficiência de práticas humanizadas durante a formação médica, nas relações que envolvem médico, paciente e alunos, enfatizando que o diálogo e a boa comunicação são práticas favorecedoras da humanização na assistência e na formação, sendo importante desenvolver estratégias para seu aprimoramento. O segundo eixo destacou que existe um aprendizado teórico da humanização na graduação, porém os alunos expõem que não está claro para eles se o aspecto da humanização é uma questão de atitudes ou de competências. O terceiro eixo, que deriva do analisador “tempo”, revelou as dificuldades do desenvolvimento de práticas humanizadas em um cenário que valoriza a produtividade do trabalho médico, o que levou o grupo a listar ferramentas para qualificar o atendimento, configurando-se como práticas instituintes naquele cenário. O último eixo destacou a análise das implicações do pesquisador e dos participantes com o ensino da humanização, colocando para reflexões as subjetividades que existem na relação médico, paciente e aluno, revelando nuances de sofrimento em suas práticas.

Considerações finais:

A pesquisa revelou que a ESF se constituiu em um espaço privilegiado para o ensino da humanização na formação, revelando ser um cenário propício para o desenvolvimento de práticas instituintes preconizadas pela PNH e os projetos que derivam da mesma. A participação dos sujeitos nos debates, as transformações que ocorreram à medida que a intervenção avançava, a análise das implicações dos participantes e as contradições evidenciadas entre a teoria da humanização e suas práticas possibilitou pensar em um produto de ensino aprendizado que se constituiu em uma “Metodologia socioclínica institucional para análise das práticas profissionais de ensino na saúde”, e que já foi incorporada na formação dos internos de medicina. O analisador que revelou as contradições da instituição de formação em saúde nos serviços de atenção básica levou à compreensão de que, periodicamente, é necessário investir mais tempo na comunicação e na organização dos serviços, além de compreender os limites e as possibilidades da prática profissional, de maneira a abrir espaço para que mudanças ocorram na formação dos futuros profissionais, considerando-se a ampla participação de todos os atores sociais nela envolvidos.

Introduction:

This is a study that aims to teach humanization in the training of medical interns to be implemented in the care practices of the Family Health Strategy (FHS).

General objective:

To analyze the teaching of humanization in the care practices of FHS medical interns with the purpose of collectively building teaching-learning instruments and tools for qualifying care.

Specific objectives:

To identify the knowledge of medical interns and preceptors in the FHS about the National Humanization Policy (NHP). To describe the humanized approaches to care used in teaching-service practices by professionals who teach the FHS. To apply a training device that allows to expand the knowledge of academics and preceptors on the practice of humanization during graduation, product of this study.

Methodology:

intervention research, with a qualitative approach, carried out in the years 2017 to 2020, taking as a theoretical methodological reference the Institutional Analysis in the institutional socio-clinical modality. It was chosen as participants preceptors and medical interns who worked in five units of the FHS in a mountain town in Rio de Janeiro. The data production devices were 03 meetings with the participants and a researcher's diary to analyze its implications. Data production took place after the project was approved by the Ethics Committee under number CAAE 83367918.3.00005245. The data produced were submitted to several readings and, in a first movement, it was sought to identify in the statements the characteristics of institutional socioclinics. New readings made it possible to identify 04 axes of analysis and 01 analyzer emerged from the intervention, carrying out the analysis of the health training institution.

Results:

The analysis of the first axis highlighted the deficiency of humanized practices during medical training in the relationships that involve doctors, patients and students, emphasizing that dialogue and good communication are practices that favor humanization in care and training, being important to develop strategies for its improvement. The second axis highlighted that there is a theoretical learning of humanization in undergraduate courses, but students explain that it is not clear to them whether the humanization aspect is a question of attitudes or competencies. The third axis, that derives from the time analyzer, revealed the difficulties of developing humanized practices in a scenario that values the productivity of medical work, which led the group to list tools to qualify the service, configuring themselves as instituting practices in that scenario. The last axis highlighted the analysis of the implications of the researcher and participants with the teaching of humanization, putting for reflection the subjectivities that exist in the doctor, patient and student relationship, revealing nuances of suffering in their practices.

Final considerations:

The research revealed that the FHS constituted a privileged space for teaching humanization in training, revealing to be a favorable scenario for the development of instituting practices recommended by the NHP and the projects that derive from it. The participation of the subjects in the debates, the transformations that occurred as the intervention progressed, the analysis of the participants’ implications and the contradictions evidenced between the theory of humanization and its practices made it possible to think of a teaching-learning product that was constituted in a “Institutional socioclinical methodology for analysis of professional teaching practices in health”, and which has already been incorporated in the training of medical interns. The analyzer that revealed the contradictions of the health training institution in primary care services led to the understanding that, periodically, it is necessary to invest more time in the communication and organization of services, and to understand the limits and possibilities of professional practice in order to open space for that changes occur in the training of future professionals, considering the wide participation of all social actors involved in it.