Publication year: 2024
Introdução:
A prática de consumo da própria placenta pelas mulheres, após o parto, foi denominada como placentofagia e, apesar da crescente discussão sobre o tema, nenhum estudo nacional investigou o perfil das mulheres que consumiram sua placenta, as motivações e os efeitos percebidos das praticantes. Objetivo:
Avaliar o perfil das mulheres que aderiram à placentofagia, suas motivações e os benefícios e malefícios referidos, de acordo com o tipo de consumo (crua, cápsula e tintura/extrato alcoólico). Método:
Pesquisa quantitativa do tipo transversal, com mulheres maiores de 18 anos, residentes no Brasil e que consumiram placenta entre 2017 e 2022. A coleta de dados foi realizada através de um questionário online auto preenchível na plataforma REDCap, divulgado por meio de e-mails, mídia social e Whatsapp. Mulheres que tiveram os serviços prestados pela Segredos da Placenta, empresa na qual a pesquisadora do estudo possui vínculo, apenas responderam sobre o perfil sociodemográfico e socioeconômico, não sendo elegíveis para outras questões sobre o consumo da placenta. As análises da caracterização da população e da prática da placentofagia (variação e motivação para o consumo) foram realizadas por meio de números absolutos, proporções, médias e desvio-padrão, utilizando a população total do estudo (n=573). Os benefícios e malefícios observados pelas mulheres foram analisados por meio de números absolutos, proporções e regressão logística binária, utilizando a população que não teve os serviços prestados pela Segredos da Placenta (n=398). Resultados:
O aumento da produção de leite foi a única motivação que mostrou diferença estatisticamente significativa no consumo da placenta na forma crua (OR: 0,66; IC: 0,44-0,99), em cápsula (OR: 2,54; IC: 1,61-4,09) e na tintura de placenta (OR: 1,62; IC: 1,14-2,23). Em relação aos benefícios, o consumo da placenta crua esteve associado com o aumento de energia e disposição e com a melhora da fadiga (p=0,043 e p=0,042, respectivamente). Além disso, o consumo de cápsulas de placenta esteve associado com o aumento da produção de leite (p<0,001), melhora nos sintomas de Baby Blues e depressão pós-parto (p=0,003) e o aumento de energia e disposição (p<0,001), enquanto o consumo da tintura de placenta esteve associado com a melhora do Baby Blues e depressão pós-parto (p=0,017), aumento de energia e disposição (p=0,012) e melhora da fadiga (p=0,011). Por fim, observou-se que não há evidências de que o tipo de consumo (crua, cápsula e tintura) esteja associado com possíveis malefícios, de maneira geral. Porém, ao analisar-se os malefícios individualmente, foi observado que o consumo da placenta na forma crua tem cinco vezes mais chances de causar enjoo/náusea (OR:5,09; IC:1,26-25,40). Conclusão:
As próprias mulheres são uma das principais fontes de indicação e divulgação da placentofagia e suas motivações para o consumo são semelhantes aos aspectos positivos evidenciados na pesquisa, como aumento da produção de leite, melhora da energia e disposição e melhora nos sintomas de Baby Blues e depressão pós-parto. Concluiu-se que, de modo geral, não há evidências sobre aspectos negativos da placentofagia. Estudos futuros são fundamentais para a compreensão e conclusões mais sólidas sobre a temática.
Introduction:
The women's placenta self-consumption practice in the postpartum period has been nominated by placentophagy. Despite the emerging discussions towards placentophagy, there is no national study analyzing the women's profiles that have been consuming her own placenta, their motivations, and direct effects noticed by them. Objective:
Evaluate women profiles that adhered to placentophagy, their motivations, beneficial or harms notices regarding the different consumption types (i.e. raw, capsule and placenta extract). Method:
Qualitative research based on transversal type, study population based on women over 18 years old, residents in Brazil, and have practiced placentophagy between 2017 and 2022. All data was gathered via an online questionnaire designed on REDCap platform. Questionnaire link was published and shared by mails, social media, website and WhatsApp platform. Women presented to placentophagy through Segredos da Placenta (company linked to the researcher) were only considered over social demography and economic profiles, without being selected for any other evaluation related to placentas consumption. The population characterization and placentophagy practices analyzes (variation and consumption motivation) were performed by using absolute numbers, proportions, averages, and standard deviation considering a total study population (n=573). The benefits and harms observed by women were analyzed by using absolute numbers, proportions and binary logistic regression considering the population that did not have the services provided by Segredos da Placenta (n=398). Results:
Breast milk increase was the only motivation that showed a statistically significant difference in placenta consumption in raw (OR: 0,66; IC: 0,44-0,99), in capsule (OR: 2.54; CI: 1.61-4.09) and extract (OR: 1.62; CI: 1.14-2.23). Regarding benefits, the placenta consumption in raw was associated with increased energy and mood, and improved fatigue (p=0.043 and p=0.042). In addition, the placenta consumption in capsule was associated with increased breast milk (p<0,001), improved Baby Blues (p=0,003), and increased energy and mood (p<0,001), while the placenta consumption in extract was associated with improved Baby Blues (p=0,017), increased energy and mood (p=0,012), and improved fatigue (p=0,011). Finally, there is no evidence that consumption type (raw, capsule and extract) is associated with possible harm in general. However, after analyzing the possible harms individually it was observed that consuming raw placenta is five times more likely to cause nausea (OR:5,09; IC:1,26-25,40). Conclusion:
Women that consumed their own placenta are the main sources of placentophagy indication and dissemination, and their motivations for consumption are similar to the positive aspects evidenced by the research such as increased breast milk, increased energy and mood, and improved Baby Blues. It was concluded that, in general, there is no evidence of negative aspects regarding placentophagy. Future research is essential for understanding more solid conclusions about placentophagy