Atividade cicatrizante do Stryphnodendron Adstringens (barbatimão) em lesões de pele e mucosa: revisão de escopo

Publication year: 2024

Introdução:

Stryphnodendron adstringens, popularmente conhecido como barbatimão, é uma planta nativa do Brasil com atividade cicatrizante descrita na literatura desde o período colonial e é uma das 71 plantas incluídas na Relação de Plantas Medicinais de Interesse do Sistema Único de Saúde. Seu uso é observado na medicina popular brasileira, especialmente por pessoas economicamente vulneráveis, comunidades indígenas e quilombolas. A planta apresenta um elevado potencial para orientar pesquisas científicas, bem como para se tornar matéria-prima de novos medicamentos fitoterápicos. De forma que é necessária uma intersecção entre o conhecimento empírico e a validação científica, através da condução de pesquisas que gerem evidências robustas para este saber tradicional. As revisões da literatura existentes sobre o tema são limitadas, não abrangentes, não demonstram a estratégia de busca e carecem de revisão por pares, apresentando métodos inadequados.

Objetivo:

Mapear as características da literatura produzida sobre a atividade cicatrizante de S. adstringens em lesões de pele e mucosas, abrangendo pesquisas realizadas em seres humanos, animais e in vitro, em diversos contextos.

Método:

trata-se de uma revisão de escopo que incluiu todos os tipos de fontes publicadas e não publicadas que investigaram a atividade cicatrizante do barbatimão para tratar qualquer tipo de lesões de pele e mucosa em seres humanos, em qualquer animal, e in vitro, em qualquer contexto. A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, Embase, CINAHL, Scopus, ScienceDirect, Web of Science, LILACS, SciELO, CUIDEN, epistemonikos, Google Scholar e MOSAICO, sem limites de idioma e tempo. A busca por estudos inéditos e da literatura cinzenta foi realizada por meio de repositórios e plataformas de registros de ensaios clínicos. A abordagem do JBI foi utilizada em todo o processo de revisão.

Resultados:

Através da busca nas bases de dados foram identificados 574 estudos potencialmente relevantes, aos quais se somaram 28 provenientes de repositórios, além de sete advindos das listas de referências. Foram incluídos 56 estudos abrangendo o período de 1988 a 2023, com um pico de produção em 2016. A maioria dos estudos foi realizada em São Paulo, seguido por Minas Gerais e Goiás. A maior parte da literatura consiste em artigos, sendo o português o idioma predominante. Dos 56 estudos, apenas dois eram estudos clínicos, enquanto os experimentais foram os mais comuns. Modelos animais não humanos foram predominantemente utilizados, especialmente com ratos. Lesões de origem induzida foram as mais estudadas, com destaque para as localizadas no dorso das costas. S. adstringens foi formulado principalmente como pomada e utilizado em diferentes durações de tratamento, muitas vezes combinado com outros ativos. Predominantemente, os estudos foram conduzidos em contextos laboratoriais.

Conclusões:

Apesar da existência considerável de dados experimentais, a escassez de estudos clínicos sobre a atividade cicatrizante de S. adstringens limita a avaliação de sua eficácia e segurança em seres humanos. Urge a realização de mais pesquisas clínicas para validar seu potencial terapêutico a fim de promover uma transição mais eficaz do laboratório para a prática clínica.

Introduction:

Stryphnodendron adstringens, popularly known as barbatimão, is a native Brazilian plant with healing activity that has been described in the literature since the colonial period and is one of the 71 plants included in the List of Medicinal Plants of Interest to the Unified Health System. Its use is observed in Brazilian folk medicine, especially by economically vulnerable people, indigenous communities and quilombolas. The plant has a high potential for guiding scientific research, as well as for becoming the raw material for new herbal medicines. Therefore, there is a need for an intersection between empirical knowledge and scientific validation, by conducting research that generates robust scientific evidence for this traditional knowledge. Existing literature reviews on the subject are limited, not comprehensive, do not demonstrate the search strategy and lack peer review, presenting inadequate methods.

Objective:

To map the characteristics of the literature produced on the healing activity of S. adstringens on skin and mucous membrane lesions, covering research carried out on humans, animals and in vitro, in various contexts.

Method:

this is a scoping review that included all types of published and unpublished sources that investigated the healing activity of barbatim to treat any type of skin and mucosal lesions in humans, in any animal, and in vitro in any context. The search was carried out in the PubMed, Embase, CINAHL, Scopus, ScienceDirect, Web of Science, LILACS, SciELO, CUIDEN, epistemonikos, Google Scholar and MOSAICO databases, without language or time limits. The search for unpublished studies and gray literature was carried out through repositories and clinical trial registry platforms. The JBI approach was used throughout the review process.

Results:

By searching the databases, 574 potentially relevant studies were identified, to which 28 were added from repositories, as well as seven from reference lists. Fifty-six studies were included, covering the period from 1988 to 2023, with a peak in production in 2016. Most of the studies were carried out in São Paulo, followed by Minas Gerais and Goiás. Most of the literature consisted of articles, with Portuguese being the predominant language. Of the 56 studies, only two were clinical studies, while experimental studies were the most common. Non-human animal models were predominantly used, especially with rats. Injuries of induced origin were the most studied, particularly those located on the back. S. adstringens was mainly formulated as an ointment and used for different treatment durations, often in combination with other active ingredients. Predominantly, the studies were conducted in laboratory settings.

Conclusions:

Despite the considerable amount of experimental data, the scarcity of clinical studies on the healing activity of S. adstringens limits the evaluation of its efficacy and safety in humans. Further clinical research is urgently needed to validate its therapeutic potential in order to promote a more effective transition from the laboratory to clinical practice.