Prevalência de adesão ao tratamento medicamentoso anti-hipertensivo: comparação entre os métodos direto e indireto

Publication year: 2024

Introdução:

O impacto positivo nos eventos cardiovasculares e redução de lesões em órgãosalvo quando há redução da pressão arterial já está bem estabelecido. No entanto, a baixa adesão aos medicamentos anti-hipertensivos é uma barreira no sucesso do tratamento e consequentemente ao controle da pressão arterial. Avaliar a adesão ainda é um desafio para os profissionais de saúde.

Objetivo:

Comparar a adesão ao tratamento medicamentoso antihipertensivo entre os métodos direto e indireto, em pessoas hipertensas acompanhadas por um serviço ambulatorial de alta complexidade.

Métodos:

Estudo exploratório, prospectivo, transversal, quantitativo, realizado com pessoas hipertensas atendidas na unidade de hipertensão de um hospital de ensino terciário da cidade de São Paulo. A coleta de dados ocorreu entre abril e julho de 2019.

Os critérios de inclusão foram:

idade acima de 18 anos, hipertensos e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídas as pessoas com hipertensão arterial secundária, doença renal crônica em estágio terminal, gestantes e aquelas com comprometimento que impedia a realização da entrevista. O cálculo da amostra foi baseado na taxa de adesão de 50%, margem de erro máxima de 5%, nível de confiança de 95%, obteve-se um número de 251 participantes. Foram realizadas entrevistas para coleta de dados biopsicossociais, hábitos e estilos de vida; comorbidades; medicamentos; avaliação antropométrica; e avaliação da adesão ao tratamento de maneira indireta pela Escala de Adesão Terapêutica de Quatro Itens de Morisky-Green. A adesão de forma direta foi avaliada na urina, com a técnica de cromatografia líquida de alta eficiência associada à espectrometria de massa. A medida da pressão arterial de consultório foi realizada com aparelho automático validado. O controle da pressão arterial foi considerado para valores <140 mmHg na pressão sistólica e <90 mmHg na pressão diastólica. O nível de significância foi de 5%. O estudo foi aprovado por comitê de ética.

Resultados:

A prevalência de adesão pelos métodos direto foi 32,4% e indireto 90,1%. A maioria era de mulheres (61,7%), etnia branca (63,2%) e casados (52,8%); 65 (13,3) anos; 47,0% no estrato socioeconômico C2; 44,3% com ensino médio completo e renda mensal mediana de R$1.900,00 (R$998,00-R$3.000,00); 7,5% tabagistas, 40,3% uso de bebida alcoólica e 38,3% sedentários. O índice de massa corporal foi 29,5 (5,3) Kg/m2 e 81,4% com sobrepeso/obesidade; 23,7% tinham transtornos mentais comuns; e em uso de 3,2 (1,3) anti-hipertensivos. A prevalência de controle da pressão arterial foi de 69,2%.

As variáveis que se associaram à não adesão avaliada pelo método direto foram:

atividade física (OR=0,370;IC95%=0,1580,853), proteinúria (OR=2,406;IC95%=1,066 5,751), número de anti-hipertensivos (OR=1,570; IC95%=1,1272,225), e pressão sistólica (OR=1,051; IC95%=1,0101,097); e pelo método indireto houve associação apenas com transtornos mentais comuns (OR=1,163; IC95%=1,0351,307). Os métodos direto e indireto de avaliação da adesão apresentaram concordância mínima entre si (CCK=0,014); apenas 29,6% dos participantes eram aderentes pelos dois métodos; sensibilidade de 91,5%; especificidade 10,5%; valor preditivo positivo 32,9%; e valor preditivo negativo 72,0%.

Conclusão:

A prevalência de adesão pelo método indireto foi bastante superior comparada pelo método direto. Além disso, o método direto parece ter sido mais sensível para identificar variáveis associadas à não adesão.

Background:

The positive impact on cardiovascular events and the reduction of target organ damage when there is a reduction in blood pressure is already well established. However, low adherence to antihypertensive medications is a major barrier to treatment success and consequently to blood pressure control. Assessing adherence is still a challenge for health professionals.

Objective:

To compare adherence to antihypertensive drug treatment between direct and indirect methods, in hypertensive people followed by a highly complex outpatient service.

Methods:

Exploratory, prospective, cross-sectional, quantitative study, carried out with hypertensive people treated in the hypertension unit of a tertiary teaching hospital in the city of São Paulo. Data collection took place between April and July 2019.

The inclusion criteria were:

age over 18 years, hypertensive and signing the Informed Consent Form. They were restored for people with secondary arterial hypertension, end-stage chronic kidney disease, pregnant women and those with conditions that prevent the interview from being carried out. The sample calculation was based on an adherence rate of 50%, maximum margin of error of 5%, confidence level of 95%, resulting in a number of 251 participants. Interviews were carried out to collect biopsychosocial data, habits and lifestyles; comorbidities; medicines; anthropometric assessment; and assessment of treatment adherence indirectly using the Morisky-Green Four-Item Therapeutic Adherence Scale. Adhesion was directly assessed in urine, using the high-performance liquid chromatography technique associated with mass spectrometry. Office blood pressure was measured using a validated automatic device. Blood pressure control was considered for values <140 mmHg in systolic pressure and <90 mmHg in diastolic pressure. The significance level was 5%. The study was approved by the ethics committee.

Results:

The prevalence of adherence by direct methods was 32.4% and indirect methods was 90.1%. The majority were women (61.7%), white (63.2%) and married (52.8%); 65 (13.3) years; 47.0% in socioeconomic stratum C2; 44.3% completed high school and had a median monthly income of R$1,900.00 (R$998.00-R$3,000.00); 7.5% smokers, 40.3% use alcohol and 38.3% are sedentary. Body mass index was 29.5 (5.3) kg/m2 and 81.4% were overweight/obese; 23.7% had common mental disorders; and using 3.2 (1.3) antihypertensive drugs. The prevalence of blood pressure control was 69.2%.

The variables that were associated with nonadherence assessed by the direct method were:

physical activity (OR=0.370;95%CI=0.1580.853), proteinuria (OR=2.406;95%CI=1.0665.751), number of antihypertensives (OR =1.570; 95%CI=1.1272.225), and systolic pressure (OR=1.051; 95%CI=1.0101.097); and using the indirect method, there was an association only with common mental disorders (OR=1.163; 95%CI=1.0351.307). The direct and indirect methods of assessing adherence showed minimal agreement between them (CCK=0.014); only 29.6% of participants adhered to both methods; sensitivity of 91.5%; specificity 10.5%; positive predictive value 32.9%; and negative predictive value 72.0%.

Conclusion:

The prevalence of adherence using the indirect method was much higher compared to the direct method. Furthermore, the direct method appears to have been more sensitive in identifying variables associated with nonadherence.