Alterações de saúde e qualidade de vida no trabalho em profissionais de enfermagem

Publication year: 2025

As características profissionais da enfermagem podem impactar a qualidade do sono, qualidade de vida laboral, estresse ocupacional e presenteísmo. Em situações semelhantes, alguns profissionais superam beneficamente as adversidades. Pouco se sabe sobre relações simultâneas entre alterações emocionais, de saúde e qualidade de vida laboral nesses profissionais.

Objetivo:

Analisar as relações simultâneas entre os constructos qualidade do sono, estresse ocupacional, resiliência e presenteísmo sob diferentes dimensões da qualidade de vida laboral em profissionais de enfermagem.

Método:

Estudo organizado em duas fases: metodológica e observacional transversal. A coleta de dados ocorreu entre 22 de junho de 2021 e 3 de outubro de 2022, incluindo 1.678 profissionais de enfermagem.

Critérios de inclusão:

idade acima de 18 anos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem atuantes no Estado de São Paulo, envolvidos na assistência, atuantes em instituição há mais de seis meses.

Instrumentos utilizados:

questionário de dados sociodemográficos, atividade laboral, hábitos de vida e situação de saúde, Quality of Working Life Questionnaire Bref, Índice de Qualidade de Sono de Pittsburg, Job Stress Scale, Escala de Resiliência e Stanford Presenteeism Scale. Realizou-se análise fatorial confirmatória para calibração dos instrumentos e modelagem de equações estruturais.

Resultados:

Houve necessidade de alteração dos instrumentos Quality of Working Life Questionnaire bref, para estrutura unidimensional, com manutenção de todos os itens; Job Stress Scale, com a exclusão dos itens g, h e i, com manutenção dos três fatores; Escala de Resiliência, com exclusão dos itens 11, 20 e 22, considerando o modelo unidimensional; Índice de Qualidade do Sono, com exclusão do componente duração do sono. Obteve-se predomínio de níveis satisfatórios de qualidade de vida no trabalho (57,6%), presença de presenteísmo (59,5%), alta demanda psicológica (53,2%), alto controle sobre o trabalho (63,9%), alto apoio social (61,3%), trabalho ativo segundo modelo demanda-controle (34.0%), moderada resiliência (54,2%) e má qualidade do sono (91,6%). Modelo hipotético foi parcialmente confirmado pelo modelo estrutural estimado e parte das hipóteses foi rejeitada. Houve predomínio de índices de qualidade de ajuste e resíduos satisfatórios. Verificou-se que presenteísmo, estresse ocupacional, resiliência e qualidade do sono explicaram 78% da qualidade de vida laboral. Observou-se que estresse ocupacional eleva os níveis de presenteísmo (=0,13). Resiliência eleva qualidade de vida laboral (=0,08) e qualidade do sono (=0,19). A baixa qualidade do sono aumenta os níveis de presenteísmo (-0,25). Estresse ocupacional atuou como mediador da relação entre resiliência e qualidade de vida no trabalho. Indivíduos resilientes apresentaram melhor qualidade de vida laboral.

Conclusão:

Estresse ocupacional, resiliência e qualidade do sono têm impacto significativo na qualidade de vida laboral dos profissionais de enfermagem. A resiliência eleva a qualidade de vida laboral e a qualidade do sono. O estresse ocupacional ocasiona maiores níveis de presenteísmo. A baixa qualidade do sono eleva os níveis de presenteísmo. Intervenções que promovam equilíbrio entre esses fatores, além de melhorar a qualidade do sono, são essenciais na promoção de bem-estar e saúde dos profissionais de enfermagem, em especial em contextos de alta demanda, como o vivido durante a pandemia de COVID-19.
Nursing professionals' characteristics can lead to changes in sleep quality, work-life quality, occupational stress, and presenteeism. In similar situations, some professionals beneficially overcome adversities. However, little is known about the simultaneous relationships between emotional, health, and work-life quality changes among nursing professionals.

Objective:

To analyze the simultaneous relationships between the constructs of sleep quality, occupational stress, resilience, and presenteeism across different dimensions of work-life quality in nursing professionals.

Method:

This study was organized into two phases: methodological and crosssectional observational. Data collection took place between June 22, 2021, and October 3, 2022, and included 1,678 nursing professionals.

Inclusion criteria:

over 18 years of age, working as a nurse, technicians, or nursing assistants in the state of São Paulo, involved in patient care, and employed at an institution for more than six months.

Instruments used:

a sociodemographic questionnaire covering work activity, lifestyle habits, and health status; the Quality of Working Life Questionnaire Bref; Pittsburgh Sleep Quality Index; Job Stress Scale; Resilience Scale; and Stanford Presenteeism Scale. Confirmatory factor analysis was conducted for instrument calibration, and structural equation modeling was applied.

Results:

There was a need to change the instruments Quality of Working Life Questionnaire bref, to a one-dimensional structure, maintaining all items; Job Stress Scale, with the exclusion of items g, h and i, maintaining the three factors; Resilience Scale, with the exclusion of items 11, 20 and 22, considering the one-dimensional model; Sleep Quality Index, with the exclusion of the sleep duration component. There was a predominance of satisfactory levels of quality of life at work (57.6%), presence of presenteeism (59.5%), high psychological demand (53.2%), high control over work (63.9%), high social support (61.2%), active work according to the Demand-Control model (34.0%), moderate resilience (54.2%) and poor sleep quality (91.6%). The hypothetical model was partially confirmed by the estimated structural model and part of the hypotheses were rejected. There was a predominance of goodness-of-fit indices and satisfactory residuals. It was found that presenteeism, occupational stress, resilience and sleep quality explained 78% of the quality of work life. It was observed that occupational stress increases presenteeism levels (=0.13), resilience increases work-life quality (=0.08) and sleep quality (=-0.19), and poor sleep quality increases presenteeism levels (-0,25). Occupational stress acted as a mediator in the relationship between resilience and work-life quality. Resilient individuals had better quality of working life.

Conclusion:

Occupational stress, resilience, and sleep quality have a significant impact on the work-life quality of nursing professionals. Resilience increases work-life quality and sleep quality. Occupational stress leads to higher levels of presenteeism. Poor sleep quality increases presenteeism levels. Interventions that promote a balance between these factors, in addition to improving sleep quality, are essential in promoting the well-being and health of nursing professionals, especially in high-demand contexts such as those experienced during the COVID-19 pandemic.