Publication year: 2024
Introdução:
O estudo examina o trabalho interprofissional e sua interseção com marcadores sociais de gênero, raça e profissão/ocupação no cuidado de trabalhadores da saúde durante a pandemia de Covid-19. Objetivo:
Analisar a experiência dos trabalhadores da saúde que participaram do Atendimento Interprofissional (IP) do Plano de Contingência de Saúde do Trabalhador em resposta à pandemia de Covid-19 em um hospital público, sob perspetiva da prática interprofissional e da interseccionalidade. Método:
Trata-se de um estudo misto explanatório sequencial, desenvolvido em duas fases. Na Fase 1 quantitativa, foram utilizados dados secundários para identificar o perfil sociodemográfico e laboral dos trabalhadores. Na Fase 2 qualitativa, foram realizadas 20 entrevistas semiestruturadas com trabalhadores que participaram do Atendimento IP. Na Fase 1, foi realizada análise estatÃstica descritiva e de cluster e na Fase 2, foi conduzida análise de conteúdo temática. Resultados:
Três grupos homogêneos (G1, G2, G3) foram identificados entre os 1.011 trabalhadores estatutários do hospital, com diferenças de gênero, raça/cor e profissão/ocupação. A desigualdade na profissão/ocupação refletiu a desigualdade de classe, já que o G1 inclui trabalhadores sem formação especÃfica em saúde e com o menor requisito de escolaridade para sua categoria funcional; o G2 é composto por trabalhadores com formação especÃfica em saúde e com o requisito educacional mÃnimo de ensino médio técnico; e o G3 compreende trabalhadores com formação especÃfica em saúde e com o requisito educacional mÃnimo de ensino superior. Todos os três grupos tinham a maioria de trabalhadores do sexo feminino. O G1 tinha o maior número de mulheres, sendo a maioria delas negras, em comparação com o G2 e o G3. O G3 tinha o menor número de mulheres e trabalhadores negros, e o maior número de homens brancos na profissão médica. Na Fase 2, a análise das narrativas dos participantes levou ao desenvolvimento de três temas: Modelo de atenção à saúde do atendimento IP: caminhando para a interprofissionalidade; Significados do trabalho em saúde: sofrimento e possibilidades de cuidado e reconhecimento social; e Relações de desigualdade entre trabalhadores em diferentes áreas da saúde. Além disso, a experiência dos trabalhadores atendidos pela equipe de Atendimento IP mostrou a predominância de uma abordagem interprofissional em termos de integração de ações, colaboração profissional e comunicação interprofissional, com a participação do trabalhador/paciente na tomada de decisões sobre o cuidado. Isso reflete o contexto de gestão hospitalar que implementou o Plano de Contingência de Saúde do Trabalhador, que incluiu a proposta de Atendimento IP com base no conceito de trabalho interprofissional e cuidado integral em saúde. Conclusão:
A gestão integrada da saúde do trabalhador e da população de referência do hospital, no contexto da pandemia de Covid-19, demonstrou trabalho em equipe interprofissional e colaborativo eficaz no Atendimento IP e o potencial para fortalecer práticas de saúde abrangentes, inclusivas e participativas que visam a saúde como um direito para todos os brasileiros.
Introduction:
The study examines interprofessional work and its intersection with social markers of gender, race/color, and profession/occupation in the care of healthcare workers during the Covid-19 pandemic. Objective:
To analyze the experience of healthcare workers who participated in the Interprofessional Care (IP Care) of the Worker's Health Contingency Plan in response to the Covid-19 pandemic at a public hospital, from the perspective of interprofessional practice and intersectionality. Method:
This is a sequential explanatory mixed-method study developed in two phases. In the quantitative Phase 1, secondary data were used to identify the sociodemographic and labor profile of the workers. In the qualitative Phase 2, 20 semi-structured interviews were conducted with workers who participated in IP Care. In Phase 1, descriptive statistical analysis and cluster analysis were performed, and in Phase 2, thematic content analysis was conducted. Results:
Three homogeneous groups (G1, G2, G3) were identified among the 1,011 statutory workers at the hospital, with differences in gender, race/color, and profession/occupation. The inequality in profession/occupation reflects class inequality, as G1 includes workers without specific health training and with the lowest educational requirement for their functional category, G2 consists of workers with specific health training and a minimum educational requirement of technical secondary education, and G3 comprises workers with specific health training and a minimum educational requirement of higher education. All three groups had a majority of female workers. G1 had the highest number of women, with most being Black, compared to G2 and G3. G3 had the fewest women and Black workers, and the highest number of white men in the medical profession. In Phase 2, the analysis of participants' narratives led to the development of three themes: Health Care Model: moving towards interprofessionality; Meanings of work in health: suffering, care possibilities, and social recognition; and Relations of inequality among workers in different health areas. Additionally, the experience of workers cared for by the IP Care team showed the predominance of an interprofessional approach in terms of action integration, professional collaboration, and interprofessional communication, with worker/patient participation in decisionmaking about care. This reflects the hospital management context that implemented the Worker's Health Contingency Plan, which included the proposed IP Care based on the concept of interprofessional work and comprehensive health care. Conclusion:
The integrated management of worker health and the reference population of the hospital, within the context of the Covid-19 pandemic, demonstrated effective interprofessional and collaborative team work in IP Care and the potential to strengthen comprehensive, inclusive, and participatory health practices that envision health as a right for all Brazilians.