Prevalência e fatores associados às violências físicas intrafamiliar e sexual contra adolescentes do sexto feminino: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2019
Publication year: 2025
A violência contra adolescentes é um grave problema de saúde pública, com impactos profundos no desenvolvimento físico, emocional e social, afetando particularmente meninas. Essa violência é reforçada por questões estruturais e sociais, e as formas mais recorrentes são a violência sexual e violência física intrafamiliar. O objetivo desta dissertação foi analisar as características epidemiológicas das violências sexual e da violência física intrafamiliar vivenciadas por adolescentes brasileiras do sexo feminino, de 13 a 17 anos. Tratou-se de um estudo transversal baseado em dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019, com análises descritivas e cálculo das Razões de Prevalência com intervalos de confiança de 95% (IC95%).
As variáveis dependentes do estudo foram divididas em dois grupos:
violência sexual e violência física intrafamiliar. As variáveis independentes dos dois grupos foram organizadas com base no modelo ecológico da violência adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Os resultados mostraram que a prevalência da violência sexual foi de 22,24% e violência física intrafamiliar foi de 22,18%. A violência sexual foi mais prevalente entre adolescentes de 16 a 17 anos (RP: 1,2; IC95%: 1,1-1,3), que usaram drogas (RP: 1,3; IC95%: 1,1-1,4), consumiram álcool (RP: 1,2; IC95%: 1,1-1,3), tinham histórico de vida sexual (RP: 1,5; IC95%: 1,4-1,7), relataram tristeza (RP: 1,9; IC95%: 1,4-2,5), tinham mães com ensino superior (RP: 1,2; IC95%: 1,1-1,3), sofreram bullying (RP: 1,2; IC95%: 1,2-1,3), foram agredidas por amigos (RP: 1,2; IC95%: 1,1-1,4) e relataram sensação de insegurança no trajeto casa-escola (RP: 1,2; IC95%: 1,1-1,4) e na escola (RP: 1,3; IC95%: 1,1-1,4). Em relação à violência física intrafamiliar, observou-se maior prevalência entre adolescentes que consumiram bebidas alcoólicas (RP: 1,11; IC95%: 1,01-1,21) e cigarros nos últimos 30 dias (RP: 1,19; IC95%: 1,07-1,32), que relataram sentimentos de tristeza (RP: 1,85; IC95%: 1,33-2,57) e de que a vida não valia a pena ser vivida (RP: 1,50; IC95%: 1,37-1,64), que faltaram às aulas sem permissão dos pais (RP: 1,11; IC95%: 1,01-1,21), cujas mães possuem ensino médio completo, incompleto ou superior incompleto (RP: 1,11; IC95%: 1,04-1,20) e cujos pais ou responsáveis consumiam bebidas alcoólicas (RP: 1,27; IC95%: 1,17-1,39), bem como entre aquelas envolvidas em brigas (RP: 1,21; IC95%: 1,10-1,34), que praticaram (RP: 1,24; IC95%: 1,12-1,37) ou sofreram bullying (RP: 1,26; IC95%: 1,17-1,36), que foram agredidas por outras pessoas (RP: 1,74; IC95%: 1,61-1,88) e que se sentiram inseguras no trajeto entre casa e escola (RP: 1,21; IC95%: 1,10-1,34) e no ambiente escolar (RP: 1,15; IC95%: 1,04-1,27). O estudo identificou elevada prevalência de violência sexual (22,24%) e física intrafamiliar (22,18%) entre adolescentes. Ambas estiveram associadas a fatores emocionais, bullying e sensação de insegurança tanto no trajeto entre casa e escola quanto no ambiente escolar. Apesar de compartilharem determinantes sociais e psicológicos, apresentaram particularidades: a violência sexual foi associada ao consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, enquanto a física intrafamiliar ao uso de drogas e histórico de atividade sexual. Os achados reforçam a necessidade de estratégias intersetoriais e políticas públicas que considerem a desigualdade de gênero, suas especificidades e promovam proteção às meninas em contextos vulneráveis.
Violence against adolescents is a serious public health issue, with profound impacts on physical, emotional, and social development, particularly affecting girls. This violence is reinforced by structural and social factors, with the most recurring forms being sexual violence and intrafamilial physical violence. This dissertation aimed to analyze the epidemiological characteristics of sexual violence and intrafamilial physical violence experienced by Brazilian female adolescents aged 13 to 17 years. It was a cross-sectional study based on data from the 2019 National Survey of School Health (PeNSE), with descriptive analyses and calculation of Prevalence Ratios with 95% confidence intervals (95% CI).