Análise do padräo de comunicaçäo oral entre equipe de enfermagem e parturiente

Publication year: 1991

Neste estudo descritivo tratamos da comunicaçäo oral entre equipe de enfermagem e parturientes. Os comportamentos orais dos sujeitos foram categorizados segundo o modelo de DARLE FORREST (1983), que propöe dezoito subcategorias de verbalizaçöes: nove säo facilitadoras da comunicaçäo - questöes de abertura, encorajamento para a paciente continuar, reflexäo, dividindo observaçöes, reconhecendo sentimentos, reconhecendo a presença da paciente, informaçäo, clarificaçäo, verbalizando pensamentos e sentimentos.

Outras nove subcategorias säo bloqueadoras da comunicaçäo:

acalmando com clichê, aconselhando, aprovando, pedindo explicaçöes, desaprovando, depreciando, defendendo, mudando o assunto e questöes fechadas. Os dados säo descritos nas diferentes fases da parturiçäo a qual é compreendida à luz do referencial de REVA RUBIN (1961, 1968, 1984) que propöe como fase I o período desde o início do trabalho de parto até os 4cm de dilataçäo do cérvix uterino; a partir daí, até os 7cm de dilataçäo do cérvix temos a fase II e dos 7cm até a expulsäo do concepto constitui-se a fase III.

Somamos a estas três fases uma outra:

a fase IV, compreendida por nós como o período que abrange a expulsäo do concepto até a retirada da paciente da sala de parto. Registramos, por meio de aparelho gravador e anotaçöes de elemento humano, o comportamento oral dos elementos da equipe de saúde que interagiram com nove parturientes, observadas desde sua admissäo até a saída da sala de parto, nos meses de fevereiro, março e abril de 1990, numa maternidade de um hospital escola da cidade de Ribeiräo Preto. Analisamos o desempenho oral da equipe de enfermagem nas quatro fases do processo de parturiçäo, descritas anteriormente. Dentro de cada fase, comparamos as verbalizaçöes dos diferentes elementos desta equipe. Obtivemos um total de 3013 emissöes orais, num período de trinta e quatro horas e sete minutos de observaçäo, cabendo à equipe de enfermagem 35,6 por cento das emissöes, o restante (64,4 por cento) ficou a cargo de "outros" profissionais. O número de verbalizaçöes emitidas às parturientes nas fases I, III e IV é semelhante, sendo que na fase II fica caracterizada uma escassez de verbalizaçöes da equipe de saúde às parturientes, em comparaçäo com as demais fases. No geral, predominaram as categorias verbais bloqueadoras da comunicaçäo (58,8 por cento) em relaçäo às facilitadoras (41,2 por cento), sendo este predomínio mais intenso na fase III (69,5 por cento de emissöes bloqueadoras). As subcategorias facilitadoras prevalentes foram informaçöes (58,4 por cento), reconhecimento da presença da paciente (20,9 por cento), clarificaçöes (15,5 por cento), verbalizaçöes de observaçöes (4,3 por cento). Dentre as bloqueadoras destacaram-se conselhos (37 por cento), questöes fechadas (29,8 por cento), desaprovaçöes (12,3 por cento), aprovaçöes (9,4 por cento), acalmando com clichê (6,6 por cento) e defesa (2,7 por cento). Como pode-se notar, o uso de subcategorias facilitadoras foi mais restritivo, tanto em termos numéricos quanto em relaçäo à diversificaçäo, em relaçäo aos comportamentos orais bloqueadores, demonstrando limitaçäo de repertório neste sentido, por parte dos sujeitos. Toda essa descriçäo em termos gerais é detalhada em cada fase da parturiçäo. O julgamento do grau de adequacidade do comportamento oral da equipe de enfermagem dirigido às parturientes é decidido em funçäo dos preceitos de RUBIN (1961, 1968, 1984) acerca do processo de internalizaçäo que estas pacientes percorrem, neste período. O referencial de FORREST (1983), por sua vez, revelou-se passível de aplicaçäo em pesquisa desta natureza, haja vista ter possibilitado a codificaçäo da comunicaçäo oral dos sujeitos observados.

Uma única ressalva deve ser feita:

näo devemos imprimir às subcategorias facilitadoras o conceito de adequacidade e às bloqueadoras o conceito de inadequacidade, face às características do processo de parturiçäo.