O paciente cirúrgico e suas expectativas de comunicaçäo com a enfermeira

Publication year: 1991

A iniciativa de se levar a efeito uma investigaçäo sobre as expectativas do paciente foi motivada pelo nosso interesse em estudar quais os padröes de interaçäo entre enfermeira/paciente, quando internado na clínica cirúrgica. Os sujeitos envolvidos foram os pacientes internados há mais de seis dias na unidade cirúrgica de um hospital-escola da cidade de Ribeiräo Preto/SP, tendo ou näo sido operados. Objetivamos com este estudo identificar em situaçöes a enfermeira se comunica com este paciente, quais os comportamentos da enfermeira durante a interaçäo e, entäo, entender quais as expectativas do paciente neste momento. Optamos pela utilizaçäo da Técnica do Incidente Crítico para atingirmos nossos objetivos, por meio de entrevista direta aos pacientes. Os resultados mostraram que as enfermeiras interagem com os pacientes quando estes estäo com medo ou tensos, quando sentem dor, ou necessitam de orientaçäo ou ajuda, sentem-se deprimidos, sozinhos ou carentes de afeto, ou quando a enfermeira exerce algum controle sobre o indivíduo doente. Outras vezes o, paciente refere situaçöes predominantemente negativas como resultado da comunicaçäo, seja quando a enfermeira provoca algum constrangimento no paciente ou quando demonstra-se negligente no cuidado. Pelos incidentes observamos que os comportamentos da enfermeira, relatados como positivos, vêm sempre acompanhados de afetividade, seja numa tarefa ou numa abordagem emocional; já nos comportamentos negativos näo houve afeto, apenas a preocupaçäo com a açäo a desenvolver, de maneira mecânica e impessoal. O relato de abandono, falta de preocupaçäo com as necessidades do paciente, insegurança, e impotência diante de uma situaçäo, nervosismo, perda de confiança na profissional ou no hospital, falta de compromisso com a resoluçäo do problema do paciente e reforço da auto-imagem negativa foram as consequências mais relatadas em decorrência do comportamento impessoal da enfermeira. A maior causa de insatisfaçäo com o comportamento da enfermeira foi "NAO CONVERSAR COM O PACIENTE". As expectativas dos pacientes säo de uma enfermeira que desenvolva suas tarefas com afetividade e näo de maneira impessoal e automática. Esses pacientes valorizam e esperam uma profissional que assuma a liderança na interaçäo, mas que vise, em primeiro plano, as necesidades do ser doente. O indivíduo doente internado na clínica cirúrgica sente-se insatisfeito com o desempenho técnico ou instrumental do trabalho da enfermeira, relatando que as consequências deste comportamento säo, na sua maioria, negativas, gerando falta de confiança no serviço e no "staff", irritaçäo, sentimentos de rejeiçäo, reforçando a auto-imagem negativa, tensäo, etc.