O papel do enfermeiro psiquiatra: oprimido e opressor

Publication year: 1990

O presente trabalho tem como objetivo analisar o papel do enfermeiro psiquiatra na assistência ao "doente mental" internado, entendendo esta prática näo isoladamente, mas enquanto prática social e histórica. Para tanto, realizamos a pesquisa empírica em dois hospitais psiquiátricos (um da rede pública e outro da rede privada), em duas etapas: observaçäo de campo e entrevistas com os enfermeiros das respectivas instituiçöes. Verificamos que o papel do enfermeiro psiquiatra é submisso e autoritário, portanto, oprimido e opressor, pois as instituiçöes onde sua prática se insere säo fechadas, autoritárias e reproduzem as características da divisäo de trabalho do sistema capitalista de terceiro mundo. Nestas instituiçöes, a ênfase do papel do enfermeiro é o cuidado indireto, sendo o cuidado direto realizado pelos outros elementos que compöem a "equipe de enfermagem" (principalmente atendentes). Estas constataçöes nos levam a contestar as afirmaçöes de vários autores de que o papel do enfermeiro evoluiu de mero vigilante à competência do relacionamento terapêutico, pois nem é o enfermeiro um vigilante, uma vez que näo é ele quem mantém uma relaçäo relaçäo próxima com o paciente, nem sua atuaçäo evidencia uma relaçäo terapêutica. A relaçäo que os componentes da "equipe de enfermagem" mantém com o paciente é autoritária e reproduz o autoritarismo das instituiçöes. Sendo assim, o discurso da escola que o principal papel do enfermeiro é o relacionamento terapêutico é de caráter ideológico, pois näo encontra eco na realidade concreta, o que nos leva a sugerir que as relaçöes ensino-aprendizagem devam ser estabelecidas a partir da praxis.