Enfermagem e loucura: visäo do conceito de loucura e do ser louco no cotidiano da instituiçäo manicomial e os reflexos na prática da enfermagem

Publication year: 1988

O trabalho em questäo tem por objetivo compreender a relaçäo entre a concepçäo que o pessoal de enfermagem e os doentes mentais têm da loucura e do ser louco, e a assistência cotidiana na instituiçäo manicomial. Para captar a concepçäo da loucura e do ser louco, tornou-se necessário rever os conceitos que a acompanham, tanto os provenientes do saber científico, como os do senso comum. O estudo empírico em dois hospitais psiquiátricos estatais foi realizado procurando-se as representaçöes nos discursos e nas açöes dos agentes da enfermagem e pacientes, através de entrevistas individuais e observaçäo participante. Nas representaçöes dos enfermeiros, evidenciou-se a dicotomizaçäo entre o saber e o fazer cotidiano que estäo centrados em dois eixos: a loucura como problema de relacionamento e a loucura como resultado de problemas sociais. Os auxiliares do trabalho da enfermagem denunciam o saber popular em que o ser louco aparece como "possesso", "abandonado", "que tem foco" e "vagabundo". As representaçöes no discurso dos pacientes vêm num esforço de justificar que näo säo loucos, porém que säo doentes. Este estudo evidenciou que a concepçäo de loucura e do ser louco encontrada direciona a relaçäo com o doente mental, todavia a questäo da qualidade da assistência de enfermagem nos manicômios reflete näo só os conceitos que se tem de loucura e do ser louco, mas também o fato do ser louco pertencer à classe pobre. Diante disso, faz-se necessário que a enfermagem re / tome sua prática como categoria profissional envolvida num processo histórico para poder, como força de trabalho, imprimir uma nova intencionalidade às suas açöes, colocando-se, conscientemente, ao lado da clientela oprimida.