O alojamento conjunto pediátrico: a inserçäo do familiar, o trabalho do enfermeiro e outras questöes

Publication year: 1991

Este trabalho teve como objetivo evidenciar as questöes que permeiam a inserçäo do familiar da criança cardiopata em situaçäo de Alojamento Conjunto, visando à compreensäo da sua participaçäo no tratamento da criança e à reorientaçäo da assistência prestada pelo enfermeiro. O material analisado foi obtido nos discursos das mäes de crianças cardiopatas internadas em Unidade Pediátrica do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, discursos estes evocados através de duas questöes: uma que indagava a respeito da história da doença na criança até o momento da internaçäo e outro que tratava da história de um dia na unidade de internaçäo. A decodificaçäo dos discursos traz à tona a discussäo de dois grandes grupos temáticos evidenciados nas representaçöes das mäes por questöes extrínsecas ao Alojamento Conjunto (o significado da doença e o tratamento da criança) e por questöes intrínsecas ao Alojamento Conjunto (o trabalho do enfermeiro e a inserçäo do familiar). A discussäo desses temas é aprofundada no decorrer do trabalho evidenciando-se a concepçäo saúde-doença articulada a normalidade / anormalidade e vinculada ao sobrenatural. Nesse contexto o tratamento da criança emerge na representaçäo que têm as mäes da organizaçäo / desorganizaçäo familiar diante da doença, do poder / saber institucional na determinaçäo das açöes / decisöes relativas ao tratamento e ainda na representaçäo que têm da vida / morte. O trabalho do enfermeiro, num primeiro momento, evidenciando o tema do Alojamento Conjunto, é apresentado indistintamente no rol das atividades de enfermagem diretamente ligadas ao cuidar biológico, destacando-se a relaçäo de poder sobre a clientela no decorrer de sua execuçäo. Num segundo momento a inserçäo do familiar traz à tona o tema do Alojamento Conjunto tornando evidente que tal inserçäo é mediada pela execuçäo de um trabalho que guarda semelhança com algumas atividades manuais do cuidado direto historicamente executados pelos profissionais de enfermagem de mais baixa qualificaçäo. Na monotonia da rotina das tarefas executadas pelas mäes, abre-se espaço para o tédio, a dor, o sofrimento e a culpa que näo recebem o mesmo tratamento formal oferecido pela Instituiçäo ao trabalho da mäe integrado nas atividades de enfermagem. As evidências deste estudo encaminham a autora a propor a realizaçäo de uma pesquisa-açäo que congregue profissionais de enfermagem e o acompanhante das crianças internadas em que pesquisadores / pesquisados busquem alternativas conjuntas de transformaçäo desta realidade.