O significado do "ethos" e da consciência ética do enfermeiro em suas relaçöes de trabalho

Publication year: 1991

Este trabalho, qualitativo fenomenológico, procurou investigar o significado do "êthos" e da consciência ética dos enfermeiros em suas relaçöes de trabalho. Sua trajetória partiu de algumas preocupaçöes básicas, tais como: - Que valores norteiam o agir ético dos enfermeiros nas suas relaçöes de trabalho? - Qual a fonte formadora do seu "êthos" e da sua consciência ética? - Em que momentos das relaçöes de trabalho os enfermeiros percebem o emergir do "êthos" e da consciência ética? - A vivência dos valores éticos é, para os enfermeiros, motivo de preocupaçäo no seu dia-a-dia profissional? - Que contradiçöes envolvem seu agir ético? O referencial teórico-filosófico foi a fenomenlogia, através da dialética de Hegel, a visäo das essências e da intencionalidade de Husserl e da existência e temporalidade, de acordo com Heidegger. Os achados foram obtidos mediante diálogos, observaçöes participantes e análise de anotaçöes de enfermagem. Esta busca, em relaçäo aos valores que constituem o "êthos" e a consciência ética, ofereceu-nos, como invariantes, emergidos do discurso e do dia-a-dia profissional: o Cuidado, a Preocupaçäo, a competência, o compromisso, a responsabilidade, a honestidade, o respeito ao ser humano. As observaçöes participantes realizadas no dia-a-dia profissional mostraram algumas características que ampliaram a percepçäo do fenômeno: a enfermagem idealizada e näo prestada, o uso do poder, o esforço pela melhoria da assistência de enfermagem idealizada, comprometida pelas atribuiçöes gerenciais, o discurso favorável ao empenho pela defesa dos direitos do cliente, confrontado pelas limitaçöes impostas pela política de saúde, econômica e por situaçöes de omissäo. Quanto às fontes formadoras do "êthos" e da consciência ética, o discurso fez emergir, em primeira instância, a escola, o dia-a-dia profissional e, a seguir, a família, as ciências sociais, as reflexöes pessoais e os cursos realizados fora da área da saúde. Os momentos da atividade profissional nos quais, conforme o discurso e a prática, emergiram os valores que formam o "êthos" e a consciência ética mostraram situar-se no execício direto da assistência, quer pelo ensino, quer pelo Cuidado direto ao cliente. As falas e as observaçöes participantes permitiram perceber que os valores que constituem o agir prático dos enfermeiros abordados constituem-se, para eles, motivo de constante preocupaçäo, näo apenas no seu dia-a-dia profissional, mas também na sua vida social e familiar. Ao longo da investigaçäo, perceberam-se contradiçöes entre a essência e a aparência do Cuidado que atingem o significado do "êthos" e da consciência ética dos enfermeiros que participaram da pesquisa. Essas contradiçöes se estabelecem entre o interesse, no discurso, pelos aspectos éticos e o silêncio sobre eles na prática; a enfermagem idealizada, ensinada e efetivamente prestada; o uso de significativo poder na unidade e sua diminuiçäo fora dela; a preocupaçäo e o esforço, no dia-a-dia profissional, no sentido de prestar um bom atendimento e as limitaçöes provocadas pelo espaço físico, pela falta de funcionários, pela política de saúde e econômica, bem como pelas situaçöes de omissäo na prática profissional. Essa sequência de invariantes analisados e interpretados permitiu-nos apresentar conclusöes relacionadas com os valores que formam o "êthos" e a consciência ética dos enfermeiros abordados, as fontes formadoras, os momentos das relaçöes de trabalho em que se manifestam, a existência de preocupaçäo com o "êthos" e a consciência ética e com as contradiçöes emergidas do discurso e da prática. Essas conclusöes laçam-nos rumo a uma nova percepçäo e compreensäo do fenômeno, que poderá colaborar com a intençäo e com o esforço de modificá-lo.