A prioridade, o isolamento e as emoçöes: estudo etnográfico do processo de socializaçäo em um centro de tratamento intensivo
Publication year: 1996
O objetivo deste trabalho foi compreender o processo de socializaçäo dos novos membros integrantes da subcultura de um Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Acreditando que o CTI é uma subcultura do hospital e que os intensivistas compartilham de sÃmbolos e significados que foram desenvolvidos através das interaçöes sociais no contexto da Terapia Intensiva, fui buscar no interacionismo simbólico e na descriçäo etnográfica a fundamentaçäo teórico-metodológica para o presente estudo. Para compreender o processo de interiorizaçäo dos universos simbólicos no CTI busquei descrever os sistemas temáticos de significados subjacentes à s atividades dos intesivistas, através da observaçäo participante, da entrevista etnográfica e da análise documental. Os resultados mostraram que no processo de socializaçäo säo reproduzidos os valores de qualidade, disciplina, compromisso, sentido da unidade e o valor das normas e de organizaçäo. Da mesma forma, ao tornar-se um intensivista, säo incorporados os mitos do saber e da tecnologia, bem como as estratégias de sobrevivência, onde a criatividade sobressai como a forma mais viável de superar limites. Este processo é permeado de sentimentos de insegurança, ansiedade, angústia, de incompetência e de medo. As causas destes sentimentos tem um forte componente na näo vivência anterior e na lacuna da formaçäo profissional. Este processo se dá formal e informalmente mas é sempre referido como árduo, penoso; muitas vezes solitário; algumas vezes compartilhado. Na imersäo dos dados e abordagem de inventário emergiram três temas principais. "Assistindo a prioridade", "sobrevivendo ao isolamento" e "transferindo emoçöes".