O Ser-coronariopata: entre o viver autêntico e as amarras ao cotidiano

Publication year: 1997

Estudo fenomenológico, cujo objeto é o sentido que os coronariopatas atribuem às suas experiências vivenciadas. Dos discursos obtidos por meio de entrevista semi-estruturada foram extraídas significações, apreendidas de imediato, quais sejam: temer a morte, a separação dos entes queridos e o retorno dos sintomas agudos; perceber a coronariopatia como transformadora da vida social, profissional e sexual; sentir-se vigiado pela família; conformar-se com a nova condição de vida; e ter sentimento de tristeza e de inconformação. Estas significações constituíram o ponto de partida para compreender a existência dos coronariopatas. A compreensão foi respaldada na analítica existencial explicitada por Martin Heidegger, em sua obra célebre Ser e tempo, permitindo captar os aspectos ontológicos, ou seja, o que está velado nas significações. Assim, a presença coronariopata desvelou-se como existente inautêntica ao se mostrar temerosa de "algo", ao amarrar-se à tagarelice e ao vigor de ser sido, desvencilhando-se da atualidade e do porvir. Ainda, transcende ao existir autêntico quando se angustia, assumindo a coronariopatia como possibilidade de ser-no-mundo, muito embora fracasse diante da tarefa de existir autenticamente e volte às amarras que a prendem ao cotidiano. O estudo traz reflexões sobre a necessidade de privilegiar a dimensão existencial na assistência à saúde e na formação dos profissionais, e sobre a compreensão do outro como esteio fundamental para o cuidar de pessoas coronariopatas