A vida por um fio: a doença que ataca silenciosamente
Publication year: 2000
O estudo objetivou identificar as representaçöes sociais de portadores de doença arterial coronária em relaçäo ao seu próprio processo saúde-doença. Objetivou ainda analisar a contribuiçäo dessas representaçöes como subsídios para repensar o processo de assistência de enfermagem à portadores de doença arterial coronária. Para tanto foram realizadas onze entrevistas individuais em profundidade, näo diretivas, utilizando-se técnica de associaçäo livre. O caminho metodológico fundamentou-se na Teoria das Representaçöes Sociais buscando as interfaces com a Psicanálise. A análise do conteúdo foi o referencial adotado na análise dos dados, identificando-se as representaçöes sociais e os eixos temáticos emergentes com seus respectivos núcleos centrais. Os resultados evidenciaram que os sujeitos vivem momentos de sofrimento ao tomarem ciência sobre a doença. A transiçäo da vivência de uma vida normal, sem doença, para uma vida anormal, com doença, vivida como um processo súbito, provoca choque e trauma gerando alto nível de ansiedade nos sujeitos. A DAC foi representada como uma doença silenciosa, que 'pega pela perna da maioria'. A cirurgia envolve um processo complexo denominado pelos sujeitos de 'aquela coisarada'. Conflitos de diferentes naturezas permeiam a superaçäo da doença e o enfrentamento da cirurgia. O coraçäo é tido como o 'centro da vida', o 'tudo', havendo analogias do pós-cirurgia como uma vida artificial. Estar por um fio significou a simbologia do risco de vida por ser portador da DAC. A unidade familiar foi considerada importantíssima no processo saúde-doença. Os sujeitos explicitaram e indicaram a necessidade da presença ativa da família durante a hospitalizaçäo. O estilo de vida vinculado aos fatores de risco para DAC säo questionados e a tendência foi adotar parâmetros de qualidade de vida próprios. O médico e a enfermeira säo porta-vozes da burocracia, a partir do momento em que o sujeito näo tem voz ativa sobre os rumos do seu processo de vida na DAC. Os dados nos remetem à necessidade de repensar a assistência de enfermagem hospitalar ou näo hospitalar, flexibilizando o planejamento dessa assistência. Evidenciou-se também o distanciamento entre um modelo holístico humanístico e um modelo holístico cartesiano