Desafios da família na convivência com o doente mental: cotidiano conturbado
Publication year: 2002
O desafio de refletir sobre as transformaçöes paradigmáticas do mundo contemporâneo e seus reflexos no campo da saúde mental, considerando os princípios da desinstitucionalizaçäo no processo da Reforma da Assistência Psiquiátrica no Brasil, fundamentasse-se na necessidade de entender, como a família do portador de transtorno psíquico está inserida neste contexto. Assim sendo, o presente trabalho, objetivou apreender as representaçöes de familiares a respeito do processo saúde-doença mental, focalizando a convivência com o familiar doente mental e compreender as mobilizaçöes psicossociais que orientam a vida cotidiana dos familiares decorrentes desse convívio. Como perspectiva analítica, adotou-se a teoria moscoviciana de representaçäo social como referencial teórico-metodológico. Procurando acessar os conteúdos representacionais relativos ao fenômeno saúde-doença mental da experiência em foco, foram entrevistados oito familiares de usuários de um Centro de Atençäo Psicossocial da cidade de Säo Paulo. Utilizou-se como estratégia para coleta de dados a entrevista semi-estruturada, e foram respeitados os princípios éticos de participaçäo voluntária, esclarecida e consentida. Os depoimentos permitiram o conhecimento das representaçöes desses sujeitos sobre o fenômeno pesquisado, representaçöes estas que orientam as açöes dos familiares na convivência com o familiar portador de sofrimento psíquico. Os temas definidos com base na análise dos dados apresentam um cotidiano repleto de dúvidas e incertezas, em um confronto entre o tempo da saúde e da doença, na qual os familiares procuram respostas para o que venha a ser doença mental. Neste movimento, objetivam a doença mental por meio do conceito da diferença destacando a ambigüidade e a fluidez das ancoragens. A seguir, apresentam as diversas maneiras de viver e lidar com o doente e a doença mental que caracterizam um cotidiano conturbado, marcado pela perda da liberdade e a liberdade possível