A experiência de tornarem-se pais de recém-nascido prematuro
Publication year: 2003
Este trabalho é um estudo de caso, cujos objetivos foram caracterizar os recém-nascidos prematuros de muito baixo peso (RNP/MBP) admitidos na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal (UTIP/N) do nascimento ao seguimento ambulatorial no primeiro ano de vida, e compreender a experiência dos pais. Sendo assim, optou-se pela realizaçäo da pesquisa em dois momentos: o primeiro, na abordagem quantitativa, com uma populaçäo de 60 RNP/MBP do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP) no período compreendido entre 1999 - 2000. Os dados foram coletados dos prontuários por meio de um formulário. Os resultados mostraram que as mäes eram na sua maioria primíparas (50,9 porcento), com idade média de 27,5 anos e que 80,0 porcento realizaram o pré-natal. Em relaçäo aos neonatos, a média de peso ao nascer foi 1.084g e a idade gestacional de 30 semanas; 23,0 porcento foram a óbito e a média de peso foi de 688g. Quanto ao tempo de permanência na terapia intensiva, dos 46 sobreviventes, a mediana foi 10 dias e a de internaçäo hospitalar 49,5 dias. Foram submetidos à intubação e à ventilaçäo mecânica (69,6 porcento), à cateterizaçäo central (78,3 porcento) e à nutriçäo parenteral (98,7 porcento). Dos egressos do Berçário, 75,0 porcento realizaram seguimento no Ambulatório Neonatal. O segundo momento, na abordagem qualitativa, os dados foram obtidos pela observaçäo participante e entrevista com os pais de bebês egressos da UTIP/N do HU-USP. Adotou-se como referencial teórico-metodológico a Antropologia Cultural e a Etnografia. Da análise das narrativas, emergiram seis categorias culturais e subcategorias que evidenciaram dois temas: "A capacidade para tornarem-se pais de um RNP/MBP: momentos de luta e crescimento" e "O cuidar e conviver com o filho". Os pais vivenciaram todo o processo permeado pela ambivalência de sentimentos em que o medo e a esperança predominaram. Relataram que essa experiência foi marcante e transformadora, atribuíram à religiosidade, aos profissionais de saúde e à assistência especializada a sobrevida do filho. Sentiram-se capacitados para cuidar da criança após a alta hospitalar, embora tenham reconhecido a existência de obstáculos que emergiram do contexto sociocultural para desempenharem os papéis de pai e mäe