Da aparência à essência: o cuidado no cotidiano do portador do HIV
Publication year: 2003
Este estudo foi realizado empregando-se a metodologia qualitativa e objetivou caracterizar as representaçöes sociais dos usuários portadores do HIV e das enfermeiras sobre a aids e o cuidado; identificar as relaçöes existentes entre as representaçöes sociais dos usuários portadores do HIV sobre o processo saúde-doença, o cuidado e o modo de enfrentar o adoecimento e identificar as relaçöes entre as representaçöes sociais das enfermeiras sobre o processo saúde-doença, o cuidado e o modo de cuidar do portador do HIV. A teoria das representaçöes sociais foi utilizada como referencial teórico tendo as proposiçöes de Moscovici, Jodelet, Herzlich, dentre outros, como norteadoras do processo de análise. O cenário do estudo foi o Serviço de Atendimento Especializado em DST/AIDS localizado no Bairro Santana na regiäo norte da cidade de Säo Paulo, que faz parte dos serviços da rede municipal de saúde. Na coleta dos dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada e para análise elegeu-se a análise de conteúdo, por meio do qual se buscou identificar os enunciados significativos em cada fala dos sujeitos participantes do estudo. Das falas, dois temas surgiram para análise, que foram nomeados de: 1. Os fios que tecem as representaçöes sobre a aids e 2. Os fios que tecem a trama das representaçöes sobre o cuidado. A aids continua suscitando representações neste universo pesquisado como uma situaçäo que causa desarranjos na vida cotidiana, na medida que ela ainda permite emergir sentimentos como: preconceito, discriminaçäo, exclusäo, o que torna o medo da solidäo presente na vida cotidiana desses portadores do vírus, que vivenciam a situaçäo de ser e que säo reforçados nas representaçöes das enfermeiras que os assistem. Tanto as enfermeiras como os portadores do vírus trazem uma nova representaçäo sobre a (re)significaçäo do vírus, na qual sua presença agora näo traz a emergência da morte. Essa nova (re)significaçäo os coloca diante da possibilidade de cuidar e mantê-los na invisibilidade. Na perspectiva do cuidado, ambos consideram os avanços terapêuticos como aliados no enfrentamento do adoecimento, mas, anseiam pelo cuidado dado ou recebido, que seja capaz de perceber e valorizar outros aspectos importantes para continuar acreditando na possibilidade de enfrentar a epidemia. Para os usuários, a ausência de carinho, de toque e de um espaço para compartilhar suas dúvidas, angústias e expectativas, constitui um vazio na sua possibilidade de vir a ser alguém capaz...