Planejamento da assistência ao paciente hospitalizado na unidade de terapia intensiva oncológica na perspectiva dos cuidados paliativos
Publication year: 2017
A pessoa com câncer avançado pode necessitar de hospitalização e em muitas situações, influenciadas pelas incertezas no momento de sua entrada nos serviços é indicada à terapia intensiva. Nestes casos, o planejamento da assistência pode ser conflitante e desafiador e resultar em investimentos obstinados terapeuticamente para oferecer ao paciente uma condição de sobrevivência não mais que vegetativa. Assim, objetivou-se: analisar o entendimento dos profissionais da equipe de saúde multidisciplinar acerca da assistência ao paciente sem possibilidades terapêuticas para a cura no contexto da unidade de terapia intensiva (UTI) oncológica e discutir os objetivos que os profissionais da equipe de saúde buscam alcançar ao planejar esta assistência, na perspectiva dos cuidados paliativos. Estudo descritivo, qualitativo, realizado com profissionais da equipe de saúde multidisciplinar, a saber: enfermeiros, médicos, fisioterapeutas e nutricionistas, que atuam na UTI adulto do Hospital do Câncer I, Instituto Nacional de Câncer, localizado no município do Rio de Janeiro, Brasil. Os dados foram coletados no período entre dezembro de 2015 e maio de 2016. A técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista semiestruturada e os dados foram analisados seguindo referencial metodológico da análise temática, resultando em seis principais núcleos temáticos. Os profissionais descreveram o perfil da clientela adulta em cuidados intensivos na oncologia como peculiar, com predomínio de pacientes para cuidados de fim de vida. Apesar disso, evidenciou-se ausência de um planejamento assistencial estratégico para os pacientes em situação de terminalidade da vida na UTI oncológica, bem como o reconhecimento dos desafios, principalmente éticos, dos processos relacionados com a sua complexidade. No entanto, sinaliza-se uma consciência por parte desses profissionais da importância de se garantir aos pacientes em cuidados intensivos condições terapêuticas menos danosas e sofridas, com vistas a respeitar a dignidade humana no processo de morrer. Contudo, dificuldades foram apontadas na adoção de melhores práticas assistenciais, dentre elas a falta de conhecimento específico, comunicação ineficaz, deficiências relacionadas ao processo de formação profissional sobre cuidados paliativos, necessidade de conscientização de todas as pessoas envolvidas no processo, déficit de recursos humanos, acúmulo de funções, falta de protocolos que norteiem tal assistência e a complexidade no processo de gestão (triagem e alocação) da clientela diante da atual estrutura hospitalar. Desponta como principal estratégia para viabilizar uma prática assistencial humanizada na perspectiva dos cuidados paliativos a necessidade de capacitação da equipe com investimento maciço na educação dos profissionais acerca dos preceitos paliativos, assim como a implementação de estratégias que minimizem o déficit de comunicação entre as equipes, visando favorecer a qualidade da assistência prestada na UTI oncológica. Para integração entre os cuidados curativos e paliativos na UTI oncológica sugere-se o modelo interconsultivo, uma vez que a instituição possui capital humano detentor deste conhecimento específico.(AU)