O processo de trabalho da enfermagem frente à família da criança hospitalizada
Publication year: 2016
O objeto do estudo foi o processo de trabalho da enfermagem frente à família da
criança hospitalizada, tendo como objetivos descrever a organização do processo de trabalho
da enfermagem frente à família da criança hospitalizada; analisar o processo de trabalho da
enfermagem e sua inter-relação criança-família; e, discutir as repercussões do processo de
trabalho da enfermagem frente à família da criança hospitalizada. As bases conceituais foram
pautadas nos conceitos de tecnologias do trabalho em saúde propostos por Merhy (1997;
2002) e no conceito de família como sistema de saúde apresentado por Elsen (1994). Trata-se
de uma pesquisa de natureza qualitativa, tipo estudo de caso. O cenário foi constituído pela 1a
Enfermaria (especialidades nefrologia e hematologia), Clínica Pediátrica 2 (especialidades
gástricas e endocrinológicas), Pneumologia I e Pneumologia II, de um hospital infantil de
grande porte, da rede pública, do Município de Vitória/ES. Os participantes foram quatro
enfermeiros, nove técnicos e dois auxiliares de enfermagem que se disponibilizaram a
participar voluntariamente. Os procedimentos metodológicos foram um formulário para
caracterização dos membros da equipe de enfermagem, a entrevista não diretiva em grupo e a
observação participante com diário de campo. Para a análise dos dados, foi utilizada a análise
temática. As unidades temáticas foram prestação de cuidados à criança,
familiar/acompanhante na enfermaria, relacionamento interpessoal, rotinas de trabalho,
conhecimentos científicos, habilidades técnicas, espaço físico das enfermarias e recursos
materiais. Os resultados apontaram que a comunicação, o vínculo e as relações estabelecidas
por meio do compartilhamento de experiências e informações entre equipe de enfermagem,
criança e família foram evidenciadas como as principais tecnologias leves presentes no
processo de trabalho. As tecnologias leves-duras foram identificadas nos relatos dos saberes
estruturados na medida em que os profissionais referiram implementar ações de atendimento
das necessidades como: higiene corporal, sinais vitais, dieta, procedimentos invasivos,
sondagem, aspiração das vias aéreas superiores e administração de medicações. As
tecnologias duras estavam relacionadas à área física das enfermarias, tanto no que diz respeito
ao déficit de espaço destinado à criança e sua família, bem como à equipe, além dos
equipamentos como berços, bombas de infusão, oxímetros de pulso, monitores cardíaco e
carrinhos de parada cardiorrespiratória, que quando em condições precárias ou em situação de
escassez, afetam o desempenho do processo de trabalho e a qualidade do serviço ofertado. O
modelo de assistência do cenário do estudo é centrado na patologia, visto que
predominantemente as crianças eram agrupadas nas enfermarias conforme o diagnóstico
médico. Em alguns momentos, constatou-se a abordagem centrada na criança, na medida em
que o profissional relatou vínculo afetivo com as crianças, com foco na assistência
biopsicossocial; quando o familiar/acompanhante era solicitado a fornecer informações que
podiam auxiliar no diagnóstico e/ou tratamento da criança; e o familiar/acompanhante
permaneceu na enfermaria em tempo integral. Conclui-se que a enfermagem precisa refletir
sua práxis, bem como a maneira de potencializar o cuidado compartilhado com a família,
reorganizando seu processo de trabalho com base no cuidado integral e no estabelecimento de
vínculos.(AU)