Publication year: 2016
O foco deste estudo abarca as lutas, estratégias e repercussões simbólicas de
enfermeiras para a criação e institucionalização do curso de Enfermagem na
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), no recorte temporal de 1973 até 1979, o qual
contempla a criação e o reconhecimento pelo Ministério de Educação e Cultura do curso
referido. A tese defendida é de que o suporte de enfermeiras americanas no contexto
das ações desenvolvidas no âmbito do Convênio celebrado entre a universidade, o
governo do estado e um projeto norte-americano foi essencial para acelerar as condições
de criação do curso e de que a mobilização de professoras e alunas pioneiras
propiciaram avanços simbólicos e concretos, para visibilidade e reconhecimento do
trabalho de enfermagem perante a sociedade local e no espaço acadêmico.
Os objetivos
da pesquisa foram:
Descrever o processo de criação e implantação do Curso de
Graduação em Enfermagem na UFAL; Analisar as estratégias de luta das docentes pelo
reconhecimento acadêmico no espaço universitário; e Discutir os efeitos simbólicos
advindos da inserção do curso de graduação em enfermagem na Universidade Federal
de Alagoas. A tese encontra suporte teórico nas contribuições do sociólogo Pierre
Bourdieu, quando aborda os conceitos de campo, habitus, capital, luta simbólica, poder
simbólico e violência simbólica, que se mostraram fecundos para analisar aspectos
explícitos e subjacentes aos achados da investigação. As fontes consultadas foram:
depoimentos orais resultantes da transcrição de 24 entrevistas (13 professoras
enfermeiras; 3 alunas da primeira turma que após a formatura ingressaram como
docentes; 4 alunas da primeira turma; 2 enfermeiras norte-americanas; e 2 professores
do curso de medicina), alguns destes depoimentos estavam arquivados no acervo do
Laboratório de Documentação e Pesquisa em História da Enfermagem – LADOPHE do
curso de Enfermagem da UFAL; atas, portarias, declarações, boletins, memorandos e
ofícios constantes em alguns setores da UFAL (Arquivo Central, Coordenação do Curso
de Enfermagem, Conselho Universitário, Departamento de Registro e Controle
Acadêmico); documentos arquivados no LADOPHE; documentos cedidos pelo projeto
norte-americano; e documentos cedidos pelos depoentes. Estas fontes foram
trianguladas com referências que abordam a História do Brasil, com ênfase na história
da saúde pública, de Alagoas e da Enfermagem. Os resultados apontam para a
confirmação da tese, eis que as estratégias empreendidas pelas professoras enfermeiras
foram bem sucedidas: na luta com médicos na ocupação do espaço no cenário de
cuidados aos pacientes, no intuito da implantação de um modelo de Enfermagem
autônoma, como parte ativa da equipe de saúde; na ampliação da visibilidade e
reconhecimento social do trabalho da enfermeira nos cuidados, na educação em saúde e
na saúde pública; na produção científica, ao ponto de alunas terem conquistado prêmio
pela qualidade de estudo exposto em evento científico nacional; na busca de algumas
pioneiras por especialização em universidades de outros estados brasileiros; na
contribuição com as Organizações Civis da Enfermagem (Associação Brasileira de
Enfermagem e Conselho Regional de Enfermagem de Alagoas); na criação do
Departamento de Enfermagem dentro da estrutura administrativa da UFAL com
consequente reconhecimento do curso. Ao final, apresentam-se considerações as quais
podem ser úteis para o resgate e compreensão do importante trabalho de enfermeiras,
em diferentes espaços do solo pátrio, no intuito da implantação e consolidação de um
modelo de Enfermagem autônomo e capacitado para cooperar com eficiência e
responsabilidade na equipe de saúde, nos vários espaços de sua atuação. Esse
conhecimento serve como ponto de reflexão para a análise, crítica e planejamento da
formação contemporânea em Enfermagem.(AU)