As condições de vida, trabalho e saúde de mulheres vendedoras ambulantes: um estudo observacional
Publication year: 2015
O Presente estudo teve como objetivo de pesquisa descrever o perfil epidemiológico, bem como analisar as condições de vida, trabalho e saúde das mulheres vendedoras ambulantes, relacionando-as com o conceito de Determinantes Sociais de Saúde. Com vistas a atender os objetivos da pesquisa, optou-se por realizar um estudo descritivo, observacional, transversal. As participantes do estudo foram 116 mulheres com idade igual ou superior a 18 anos, que trabalham exclusivamente como vendedoras ambulantes e, exercem tal atividade por no mínimo seis meses.
Os dados foram coletados entre os meses de Julho à Agosto de 2014 em três pontos específicos do Centro da Cidade do Rio de Janeiro:
Central do Brasil, Região do entorno da Rodoviária Novo Rio, e Largo da Carioca. A análise estatística foi processada através do software estatístico SAS® System, versão 6.11 (SAS Institute, Inc., Cary, North Carolina). Foram elaboradas tabelas de contingência, e realizados testes qui-quadrado no programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) para verificar a associação entre determinadas variáveis.Os resultados foram sistematizados e organizados em tabelas que se apresentam em três categorias:
condições socioeconômicas, condições de trabalho e condições de saúde auto referida pelas participantes do estudo. A mediana de idade entre as participantes do estudo foi de 45 anos. Há uma predominância da raça negra no grupo pesquisado. Quase a metade das vendedoras ambulantes (47,4 %), possui uma renda média mensal de até um salário mínimo, e cerca de 35,3% das entrevistadas cursaram o ensino médio. Uma das características que sobressaltam neste estudo é que 50,5% das mulheres são chefes de família. De acordo com características socioeconômicas das mulheres vendedoras ambulantes, podemos reafirmar por meio desta pesquisa, que as mulheres negras, continuam a ganhar menos, quaisquer que sejam suas credenciais de escolaridade, assim como alega o IBGE (2010). Tratando-se aqui, da imbricação de duas discriminações recorrentes em nosso país, a de gênero e a de raça. Soma-se a isto as perversas características do ambiente laboral para com aquelas que executam suas tarefas em vias e logradouros públicos, agravadas pelo contexto do trabalho informal. Neste sentido, destacamos que as vendedoras ambulantes passam cerca de 10 horas por dia imersas em um ambiente extremamente barulhento, expostas à radiação solar e calor intenso, além de constante poluição do ar. Alimentam-se enquanto atendem seus clientes, com mantimentos trazidos de casa, que permanecem desde o início da jornada em temperatura ambiente, sem nenhum mecanismo de conservação. Sob a ótica dos Determinantes Sociais de Saúde, entendemos que a natureza do emprego e as condições de trabalho têm efeitos sobre a saúde física e mental dos trabalhadores. Imbuídos por este referencial, destacamos que cerca de 64,7% das entrevistadas referiram ardência e/ou irritação nos olhos por conta de poeira ou fumaça presentes em seu ambiente de trabalho, 83,6 % das mulheres queixam-se de dores musculares em geral; 82,8 % queixam-se de lombalgia; 46,6 % referem edema em membros inferiores; 61,2 % queixam- se de varizes em membros inferiores e dores de cabeça; 50,9 % referem ter insônia; 51,7 % relataram ter problemas emocionais como ansiedade ou depressão que a causa tenha sido o trabalho. Ainda no campo da saúde mental, foi possível avaliar em nosso estudo, a relação existente entre o estresse, uma condição que demonstra a situação de trabalho vivenciada pelas vendedoras ambulantes no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, e a insônia. Ao realizarmos o cruzamento dessas variáveis, e analisarmos a correlação entre as mesmas, podemos inferir que a incidência de insônia entre o grupo de mulheres vendedoras ambulantes está associada ao nível de estresse em seu ambiente de trabalho. Por fim, observamos que as longas jornadas de trabalho dificultam o acesso das mulheres aos serviços de saúde. Através desta pesquisa, apreendemos um pouco mais do cotidiano das mulheres vendedoras ambulantes, que por seu modo de inserção no mercado de trabalho, se submetem a condições laborais que as obrigam a deixar em segundo plano alguns imperativos de vida e trabalho, inclusive os cuidados com sua saúde. É possível perceber, na perspectiva da saúde ocupacional, que para alcançar o desenvolvimento de ações de atenção integral à saúde da classe de1 trabalhadoras envolvidas neste estudo, é necessário a realização de mudanças estratégicas nas formas de se ofertar saúde a população, para que se possa contemplar a complexidade das relações trabalho-saúde no âmbito da informalidade
This work has the purpose to describe the epidemiological profile search, and analyze the conditions of life, work and health of women street vendors, relating them with the concept of Social Determinants of Health. In order to meet the objectives of the research, it was decided to hold a descriptive, observational, cross-sectional study. Study participants were 116 women aged over 18 years, working exclusively as street vendors for at least six months. It was established that informal workers who eventually had formal employment contract could not participate in this survey.