Publication year: 2017
Esta pesquisa tem como objeto:
as representações sociais (RS) dos estudantes de Enfermagem sobre
os direitos dos usuários da saúde. Os objetivos foram:
identificar as RS dos estudantes de graduação
em Enfermagem sobre os direitos dos usuários da saúde; descrever os elementos que integram as RS
dos estudantes de Enfermagem em diferentes momentos do curso de graduação em Enfermagem e
discutir os direitos dos usuários da saúde e suas relações com o cuidado de Enfermagem, à luz das
RS dos estudantes. Método:
o referencial teórico e metodológico é a Teoria das Representações
Sociais (TRS), na sua abordagem processual e estrutural. Os participantes foram 228 estudantes de
graduação em Enfermagem, 117 do terceiro e 111 do oitavo períodos, de uma instituição pública
federal do Rio de Janeiro. Foi realizada uma triangulação metodológica com a utilização de três
técnicas com as seguintes amostras, a saber: técnica de evocações livres (TEL): 49 estudantes do
terceiro e 43 estudantes do oitavo período, totalizando 92 estudantes; técnica de Entrevista em
profundidade: 20 estudantes do terceiro e 20 estudantes do oitavo período, totalizando 40 estudantes
e o quase-experimento: 48 estudantes do terceiro periodo e 48 estudantes do oitavo, totalizando 96
estudantes. Os dados provenientes das entrevistas foram submetidos ao software ALCESTE 2012.
Foi realizada a análise do tipo padrão com 75% de aproveitamento do corpus. Quanto a abordagem
estrutural, a análise dos dados da TEL foi por estatística, através do Software EVOC (Ensemble de
programmes permettant l’analyse des evocations), versão de 2003. Tomando como base os resultados
e as análises referentes a abordagem estrutural e processual das RS dos estudantes sobre os direitos
dos usuários da saúde, realizou-se um quase experimento com os estudantes. O quase-experimento
compôs-se de situações com três cenários (casos): caso controle (caso 1), uma situação com a
presença da variável “parente” (caso 2), uma situação com a presença da variável “função
profissional”. Para tanto se considerou a seguinte hipótese:
há variáveis relacionadas ao atendimento
(questões) que podem ser modificadas na dependência de características do usuário que procura os
serviços de saúde (parente e função profissional) para o grupo de estudantes (terceiro e oitavo período
do curso de graduação) configurando as RS dos direitos dos usuários da saúde. Para cada experimento
o estudante respondeu 15 perguntas que versaram sobre:
o acesso, o sistema público e o privado, o
respeito e o conhecimento sobre os direitos dos usuários da saúde, atendimento, tratamento e relação
com a equipe médica e com a equipe de Enfermagem. Os dados desse quase experimento foram
analisados a partir da análise do tipo MANOVA. Os resultados da abordagem processual
evidenciaram o positivo e o negativo dos direitos dos usuários da saúde e da Enfermagem, as
dificuldades na garantia dos direitos dos usuários e o ensino durante o curso de graduação em
Enfermagem como espaço de discussão sobre a temática. Na abordagem estrutural foi possível
estabelecer aproximações e distanciamentos nas RS dos estudantes de enfermagem do terceiro e
oitavo período sobre os direitos dos usuários da saúde, para os estudantes do terceiro período o termo
mais evocado foi valores, evidenciando que para este grupo a ideia dos direitos dos usuários da saúde
possuem relação com os valores das pessoas - profissionais enquanto os estudantes do oitavo possuem
RS com elementos mais reificados, pautados nos princípios das políticas públicas do SUS. Com a
realização do quase - experimento foi possível evidenciar que 11 das 15 questões possuem diferenças
significativas entre as variáveis apresentadas, à saber: 10 delas ocorreram no caso experimental,
dentre estas 10, sete delas ocorreram em razão da função profissional exercida pelo usuário da saúde
e três delas ocorreram na condição experimental e grupo. Considerações finais:
As RS dos estudantes
de Enfermagem do terceiro e oitavo período sobre os direitos dos usuários da saúde são construídas
baseadas na noção de "acesso" que os usuários da saúde buscam nos serviços de saúde, para objetivar
e garantir seu "direito", visando a um atendimento bom, seja no serviço público ou no privado. O que
demarca a igualdade no acesso aos serviços de saúde como garantia dos direitos dos usuários da saúde
não são só esses sub-sistemas de saúde (público e privado), mas também os usuários da saúde que
buscam os serviços oferecidos por estes. Durante o curso de graduação em Enfermagem os estudantes
aprendem que todas as pessoas devam ser tratadas iguais; porém, observam que no cotidiano dos
serviços de saúde, seja no setor público ou privado, isso não acontece. Logo é preciso (re)pensar sobre
as práticas de cuidado articuladas aos saberes sociais de seus produtores com o arcabouço teórico e
cientifico da área e, por isso, a utilização de metodologias ativas que exercitem o raciocínio com base
em contextos diferenciados de atenção à saúde podem ser importantes aliadas para o estabelecimento
de diálogo entre o senso comum e os saberes científicos, reconfigurando os campos representacionais.(AU)