Qualidade do cuidado materno e neonatal em região de saúde do Ceará: visão da puérpera
Publication year: 2017
A redução da morbimortalidade materna e neonatal está fundamentada na abordagem da qualidade dos cuidados ofertados durante o período gravídico-puerperal, em atuação na perspectiva da prevenção. O Quality Maternal and Newborn Care (QMNC), referencial de qualidade da atenção obstétrica e neonatal padrão-ouro internacional, é constituído de elementos essenciais para a avaliação das práticas e dos cuidados efetivos necessários às mulheres e recém-nascidos. Nesta ótica, a avaliação das práticas desempenhadas atualmente na estratégia Rede Cegonha, tendo como embasamento o QMNC, faz-se necessária, haja vista a completude do modelo, por seu rigoroso processo de construção e vasto referencial teórico utilizado. Objetivou-se avaliar a qualidade do cuidado ofertado à mulher e ao recém-nascido sob a ótica da puérpera. Estudo avaliativo, realizado em maternidade de referência para os 10 municípios pertencentes à 18ª Região de Saúde do Estado do Ceará, localizada em Iguatu-CE. A amostra foi composta por 92 puérperas, as quais foram entrevistadas durante o período de outubro a dezembro de 2016, mediante a adequação aos critérios de inclusão pré-estabelecidos. A análise estatística e cruzamento das variáveis foram realizados no software SPSS, versão 22.0. O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Nesta perspectiva, apreende-se que as puérperas encontravam-se na idade até 29 anos (76,1%), eram primíparas (56,5%), procedentes do município pólo da Região (56,5%), com companheiro estável (79,8%), exerciam atividade extra-lar (50%), apresentaram entre 5 a 12 anos de estudo (88,8%) e detinham um rendimento mensal familiar entre um salário mínimo ou inferior (61,9%). Na categoria educação, informação e promoção da saúde constatou-se uma maior prevalência entre seis e nove (64,4%) consultas pré-natais sendo realizadas conjuntamente por enfermeiros e médicos (94,5%), com referência ao enfermeiro pela maior parte das orientações prestadas ao longo das consultas (60,4%). Na categoria avaliação, triagem e planejamento do cuidado evidenciou-se a gestação de baixo risco (92,3%), com realização dos exames preconizados em taxas superiores a 80%, todavia, o profissional responsável pelo acompanhamento do parto foi o médico (85,7%), em detrimento do enfermeiro obstetra. Quanto à categoria promoção de processos normais e prevenção de complicações verificou-se discreta sobreposição do parto normal (52,2%) à cesárea (47,8%), contudo, não há o preenchimento adequado do partograma (26,1%), estímulo à adesão de posições verticais durante o parto (12,0%) e clampeamento tardio do cordão umbilical (3,3%), práticas consideradas benéficas para a qualidade da assistência obstétrica e neonatal. Já na categoria gestão de primeira linha e tratamento de complicações graves identificou-se a prevalência para infecção do trato urinário na gestação (54,3%), seguido pelo tratamento (67,6%), enquanto no recém-nascido as intercorrências foram predominantes no puerpério, com prevalência de desconforto respiratório (42,9%). Ademais, apenas o número de abortos esteve associado à ocorrência de complicações. Destarte, infere-se que mudanças no cuidado materno-infantil estão acontecendo neste âmbito, porém ainda há necessidade de adequação de algumas práticas benéficas não utilizadas, o que poderá ser revertido com o tempo, investimento, capacitação dos profissionais e a estruturação completa dos equipamentos de saúde que compõem a Rede.(AU)