O curso de aprimoramento para enfermeiras obstétricas: desenvolvendo e ampliando o poder de agir de um coletivo profissional no seu meio de trabalho

Publication year: 2018

Para a mudança de modelo na atenção obstétrica o Ministério da Saúde tem investido na formação e capacitação de enfermeiras (os) obstétricas (os) e uma das modalidades trata-se de um curso de capacitação de curto prazo intitulado de Curso de Aprimoramento para Enfermeiros Obstétricos. Este estudo teve como objetivo analisar o Curso de Aprimoramento para Enfermeiras (os) Obstétricas (os) como articulador da transformação das situações reais de trabalho no âmbito da assistência ao parto. Trata-se de um recorte de uma pesquisa avaliativa com abordagem qualitativa em que se utilizou o referencial conceitual da “Clínica da Atividade” de Yves Clot (2010). Os sujeitos do estudo foram enfermeiras (os) obstétricas (os) de quatro regiões do Brasil inseridos em maternidades e que se enquadraram nos critérios de inclusão do estudo, totalizando 64 participantes. Para a coleta de dados utilizou-se uma ficha de identificação e foram realizados oito grupos focais. A análise de dados foi realizada pela análise de conteúdo direta, utilizando-se o software MAXQDA© versão 2018. O material gravado dos grupos focais foi transcrito e analisado por meio do software, sistematizado e categorizado para compor o banco de dados, considerando opiniões recorrentes, dissensos e consensos das participantes.

Foram construídas quatro categorias de análise guiadas pelo refencial teórico:

a) sentimentos e expectativas do curso em relação ao poder de agir do enfermeiro; b) a autonomia do enfermeiro obstétrico para o fortalecimento do gênero profissional; c) o cuidado como chave propulsora para a mudança; d) o curso como articulador do coletivo no trabalho. A primeira foi construída a partir dos sentimentos referidos pelas (os) aprimorandas (os) relativos ao Curso e vivência no campo de prática, bem como suas expectativas. A segunda categoria refere-se a autonomia da (o) enfermeira (o) obstétrica (o) e foi definida devido às inúmeras vezes que o termo “autonomia do enfermeiro” foi utilizado pelas (os) aprimorandas (os) durante a discussão nos grupos focais. A terceira categoria demostra a retomada do significado do cuidar em enfermagem pelas (os) aprimorandas (os) a partir da vivência no campo de prática do Curso servindo de inspiração para a mudança pessoal e profissional. A quarta e última categoria dá ênfase aos planos de ação/intervenção nos processos de assistência ao parto e nascimento, elaborado no final da primeira etapa do curso pelas (os) aprimorandas (os), juntamente com os pesquisadores, refletindo os enfrentamentos necessários para mudanças de atitude e práticas no âmbito do cuidado, formação e gestão. Por meio deste estudo, pode-se inferir que o Curso de Aprimoramento para enfermeiras (os) obstétricas (os) foi importante para a reafirmação do gênero profissional e um articulador da transformação das situações reais de trabalho no âmbito da assistência ao parto. Espera-se, assim, que este trabalho contribua para a criação de outros cursos para profissionais de enfermagem, utilizando esta modelagem metodológica de modo que suas repercussões possam potencializar a prática da (o) enfermeira (o) obstétrica (o) de forma autônoma, fortalecendo assim, o protagonismo dessas profissionais nas transformações das situações reais de trabalho.(AU)
In order to change the model in obstetric care, the Ministry of Health has invested in the training and qualification of obstetrical nurses and one of the modalities is a short-term training course, titled an Improvement Course for Obstetric Nurses. This study aimed to analyze the Course of Improvement for Obstetric Nurses as an articulator of the transformation of real work situations in the field of childbirth care. It is a cut of an evaluative research with a qualitative approach in which the conceptual reference of the "Clinic of the Activity" of Yves Clot (2010) was used. Participants were professional obstetrician nurses from four regions of Brazil inserted in maternity hospitals and who met the inclusion criteria of the study, totaling 64 participants. For data gathering, an identification card was used and eight focal groups were performed. The analysis of the data was performed through the direct content analysis using the software MAXQDA © version 2018. The recorded material of the focus groups was transcribed and analyzed through the software, systematized and categorized to compose the database, considering recurrent opinions, dissent and consensus of the participants.

Four categories of analysis were constructed guided by the theoretical reference:

a) feelings and expectations of the course in relation to the nurse's power to act; b) the autonomy of the obstetric nurse to strengthen the professional gender; c) care as the driving force for change; d) the course as articulator of the collective at work. The first category reveals the feelings, expectations and meanings that the experience in other daily work that has served as a model for childbirth and childbirth care has for the obstetric nurses in training. The first one was built based on the participants's feelings about the course and their experiences in the field of practice, as well as their expectations. The second category refers to the autonomy of the obstetric nurse and was defined because of the several times that the term "nurse´s autonomy" was used by the obstetrics nurses in training during the discussion in the focus groups. The third category shows the resumption of the meaning of care in nursing by obstetrician nurses in training, from the experience of practice of the Course serving as inspiration for personal and professional change. The fourth and last category emphasizes action / intervention plans in childbirth and childbirth care processes, elaborated at the end of the first stage of the course by the learners, together with the researchers, reflecting the confrontations that will be necessary for changes in attitudes and practices in care, training and management. Through this study, it can be inferred that the course of improvement for obstetrical nurses was important for the reaffirmation of the professional gender and an articulator of the transformation of the real work situations in delivery assistance. Therefore, it is hoped that this work will contribute to the creation of other courses for nursing professionals, using this methodology so that its repercussions can potentialize the practice of the obstetric nurse in an autonomous way, thus strengthening the role of these professionals in the transformation of real work situations.(AU)