Qualidade de vida e fatores associados segundo os determinantes sociais da saúde em idosos: estudo transversal de base populacional

Publication year: 2018

Introdução:

Oportunizar um envelhecimento ativo, saudável e com boa qualidade de vida (QV) tem sido um dos maiores desafios em nível mundial, sobretudo, para os países de capital periférico. As profundas divisões sociais, nesses países, afetam a saúde da população ao longo do curso da vida, gerando diferenças nas exposições a fatores e eventos estressores e vulnerabilidades. Os determinantes sociais da saúde são um dos responsáveis por esse efeito na saúde e, também, por influenciar a QV dos idosos. Contudo, são frequentemente desconsiderados nas intervenções dos preditores do cuidado e nas políticas públicas.

Objetivo:

Analisar os fatores associados à qualidade QV, segundo os determinantes sociais da saúde, em uma amostra de idosos residentes em uma metrópole, Brasil.

Método:

Trata-se de estudo transversal, observacional e de base populacional, em âmbito regional, envolvendo 291 pessoas com 60 anos ou mais de idade, residentes em um dos nove distritos sanitários de Belo Horizonte, Minas Gerais. Realizaram-se inquéritos domiciliares em 346 setores censitários sorteados aleatoriamente. Foi aplicado o instrumento World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-bref) para avaliação da QV e um questionário para avaliar os determinantes sociais da saúde. Utilizou-se, para analise dos dados, o programa estatístico Statistical Pacckage for Social Sciences software (SPSS, versão 23.0, Chicago, IL, USA). Inicialmente, os dados foram analisados por meio de técnicas descritivas (frequências absolutas e relativas) e, posteriormente, regressão logística multivariada para identificação de possíveis preditores de QV, considerando nível de significância de 5%. Também foi construída uma curva Receiver-Operating Characteristic (ROC) para determinar a capacidade diagnóstica do ponto de corte qualidade de vida geral QVG acima ou abaixo do valor 60 como teste de rastreamento para pessoas idosas em predizer (muito) boa QV e (muito) satisfeito com sua saúde ou o contrário.

Resultados:

Os achados mostraram que mais da metade da amostra (55,7%) possuíam boa percepção da QV e encontravam-se satisfeitas com sua saúde. O domínio meio ambiente obteve o pior escore (mediana = 65,6), enquanto, o domínio psicológico foi o que mais explicou os escores QVG (R2 = 0,703).

Os determinantes sociais da saúde que se associaram significativamente com QV e satisfação com a saúde foram apenas os determinantes proximais e intermediários:

prática de atividade física 4-7x/semana (OR=4,07; IC95%:1,14-14,54), usufluir de plano de saúde privado (OR=1,93; IC 95%:1,01-3,71), ex-fumante (OR=0,43; IC 95%:0,22-0,86) e aposentadoria por invalidez (OR=0,14; IC 95%:0,04-0,47). A análise da curva ROC indicou o valor crítico 60 como o melhor ponto de corte para avaliação da percepção de QV e satisfação com a saúde. A área sob a curva foi 0,807, com sensibilidade de 95,06% e especificidade de 37,21% para um ponto de corte QVG superior ou igual a 60 pontos em idosos pertencentes ao grupo G5 (Qualidade de vida boa/satisfeito); e sensibilidade de 77,78% e especificidade de 82,62% para um ponto de corte QVG inferior a 60 pontos em idosos pertencentes ao grupo G6 (Qualidade de vida ruim/insatisfeito).

Conclusão:

Os menores escores no domínio meio ambiente demonstram que a amostra estudada ainda sofre com as condições ambientais e financeiras precárias, além de oportunidades de lazer e segurança insuficientes. A identificação do perfil mais vulnerável a piores escores de QV, através dos determinantes sociais da saúde, e a transformação de comportamentos e estilos de vida pode garantir melhor QV em pessoas idosas. Além disso, os resultados alertam o serviço público de saúde, dessa região, em que a melhor qualidade de vida esteve atrelada ao fato de possuir plano privado de saúde. Ressalta-se, portanto, a importância dos nossos achados na identificação dos determinantes sociais da saúde que interferem na QV de indivíduos longevos podendo ser utilizados como subsídios para a programação dos investimentos, das ações e das políticas, por parte do Estado. Além de contribuir no planejamento do cuidado em saúde, principalmente, na atenção primária à saúde, destacando o papel do enfermeiro nas ações de educação em saúde.(AU)

Introduction:

Achieving active, healthy and quality-of-life (QoL) aging has been one of the greatest challenges worldwide, especially for peripheral countries. Deep social divisions in these countries affect the health of the population over the course of life, generating differences in exposures to stressors and stressors and vulnerabilities. The social determinants of health are one responsible for this effect on health and also for influencing the QoL of the elderly. However, they are often disregarded in the interventions of care predictors and public policy.

Objective:

To analyze the factors associated with QoL quality, according to the social determinants of health, in a representative sample of elderly people living in a metropolis, Brazil.

Method:

This is a cross-sectional, observational, population-based study at the regional level involving 291 people aged 60 years and over residing in one of the nine health districts of Belo Horizonte, Minas Gerais. Household surveys were conducted in 346 randomly selected census tracts. The World Health Organization Quality of Life instrument (WHOQOL-bref) was used to assess QOL and a questionnaire to assess the social determinants of health. Statistical Pacckage for Social Sciences software (SPSS, version 23.0, Chicago, IL, USA) was used to analyze the data. Initially, the data were analyzed using descriptive techniques (absolute and relative frequencies) and, later, multivariate logistic regression to identify possible predictors of QoL, considering a significance level of 5%. A Receiver-Operating Characteristic (ROC) curve was also constructed to determine the cutoff diagnostic ability of QVG general quality of life above or below 60 as a screening test for elderly people to predict (very) good QoL and (very) satisfied with their health or otherwise.

Results:

The findings showed that more than half of the sample (55.7%) had a good perception of QoL and were satisfied with their health. The environmental domain had the worst score (median = 65.6), while the psychological domain was the one that most explained the QVG scores (R2 = 0.703).

The social determinants of health that were significantly associated with QoL and health satisfaction were only the proximal and intermediate determinants:

physical activity practice 4-7x / week (OR = 4.07, 95% CI: 1.14-14.54 ), private health plan usufruct (OR = 1.93, 95% CI: 1.01-3.71), former smoker (OR = 0.43, 95% CI: 0.22-0.86) and disability retirement (OR = 0.14, 95% CI: 0.04-0.47). The ROC curve analysis indicated the critical value 60 as the best cutoff point for assessing QOL perception and health satisfaction. The area under the curve was 0.807, with a sensitivity of 95.06% and a specificity of 37.21% for a QVG cutoff point greater than or equal to 60 points in elderly individuals belonging to the G5 group (Good / satisfied quality of life); and sensitivity of 77.78% and specificity of 82.62% for a QVG cutoff of less than 60 points in the G6 (poor / dissatisfied quality of life) elderly.

Conclusion:

The lower scores in the environmental domain show that the sample studied still suffers from poor environmental and financial conditions, as well as insufficient leisure and safety opportunities. The identification of the profile most vulnerable to worse QoL scores, through the social determinants of health, and the transformation of behaviors and lifestyles can guarantee a better QoL in the elderly. In addition, the results alert the public health service in this region, where the best quality of life was linked to having a private health plan. Therefore, the importance of our findings in the identification of social determinants of health that interfere in the QoL of long-lived individuals can be used as subsidies for the programming of investments, actions and policies, by the State. In addition to contributing to the planning of health care, especially in primary health care, highlighting the role of nurses in health education actions.(AU)