Práticas de cuidado à mulher no ciclo gravídico puerperal com histórico de consumo de álcool e outras drogas: perspectiva da enfermagem

Publication year: 2018

Trata-se de pesquisa qualitativa, descritiva. Teve como objetivo geral analisar as práticas de cuidado desenvolvidas por profissionais de enfermagem à mulher com uso e abuso de álcool e outras drogas na gestação, parto e puerpério na perspectiva da vulnerabilidade e das políticas públicas de saúde. Utilizou o método “Narrativa de vida” de Daniel Bertaux. Os dados foram coletados em domicílios de participantes da Área Programática 3.1 da cidade do Rio de Janeiro, no período de julho e setembro de 2017.

O critério de inclusão foi:

mulheres que fizeram uso e abuso de álcool e outras drogas durante a gestação, parto e/ou puerpério.

A questão norteadora da entrevista:

fale dos cuidados que você recebeu dos profissionais de enfermagem na gestação, parto, pós-parto e nascimento do seu filho. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa. Após transcrições, releituras e recodificações as unidades temáticas foram agrupadas e utilizou-se a análise temática.

Emergiu das narrativas a categoria analítica:

“Mulheres que usam e abusam de álcool e outras drogas: Vulnerabilidades e Práticas de cuidado de Enfermagem”, que foi analisada sob a ótica da vulnerabilidade, das políticas públicas e do referencial teórico da Teoria da Transição de Afaf Meleis. As narrativas evidenciaram que todas as mulheres entrevistadas consideram que receberam assistência de qualidade no momento parto e, que as práticas de cuidado recebidas, foram boas práticas. Evidenciou-se o emprego de procedimentos invasivos de cuidado, como o toque vaginal e uso de soro com ocitocina. As mulheres apresentaram medo, culpa e vergonha por fazerem uso e abuso de álcool e outras drogas durante a gestação e até mesmo rejeitam a gravidez. Na perspectiva da Teoria da Transição evidenciou-se que as mulheres apresentam transição desenvolvimental: gravidez/ser mãe; situacional: uso abusivo de álcool e outras drogas e saúde-doença: tratamento da Sífilis congênita. As condições de transição influenciaram a forma como cada pessoa reage à transição. As consultas pré-natais representam o primeiro contato dessa mulher com seu processo transicional e a enfermeira pode facilitar a aceitação de uma gestação, após rejeição inicial da mesma.

Sob o ponto de vista da Vulnerabilidade as participantes apresentaram vulnerabilidade individual:

falta de informação de medidas educativas sobre as formas de transmissão e prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, baixo poder de confiança ou estima para adotar medidas preventivas, como o uso sistemático de preservativos nas relações sexuais; social: mães com menos de oito anos de estudo, multíparas, sem o companheiro, sem ocupação ou com ocupação que exige apenas o nível fundamental e programática: falta de integração de serviços na promoção da saúde do indivíduo para agendamento da consulta, déficit no acesso para realização dos exames de rotina do pré-natal.

Conclusão:

evidenciou-se que as participantes vivenciaram três tipos de transição; apresentam-se mais vulneráveis com o uso e abuso de álcool e outras drogas, foram submetidas a práticas obstétricas rotineiras e não se vinculam aos profissionais de enfermagem e, sim aos Agentes Comunitários de Saúde e Redutores de Danos.
This is a qualitative, descriptive research. It was intended to analyze the practices of care that have been developed by nursing team to women with use and abuse of alcohol and other drugs in pregnancy, childbirth and puerperium in the perspective of vulnerability and public health policies. It was based in Daniel Bertaux’s Method called "Narrative of Life". The databases were collected in the participant’s house, in Rio de Janeiro's Programmatic Area 3.1, during the period of July and September of 2017.

The inclusion standard was:

women who made use and abuse of alcohol and other drugs during pregnancy, childbirth and/or puerperium.

The guiding question of the interview was:

Talk about the care that you have received from nursing team during pregnancy, childbirth, and postpartum. The project was approved at the Ethic’s Research Committee. After transcriptions, retranscriptions, rereads and recodes the thematic units were grouped, synthesized, creating empirical categories by thematic analysis. Emerged from the narratives one category, that was: "Women with use and abuse of alcohol and other drugs: Vulnerabilities and Nursing Practices of Care", which was based on the conception of vulnerability, the Brazil’s public health policies and the reference of the Transitions Theory by Afaf Meleis. The narratives of life showed that all the women interviewed consider that they received quality assistance at the time of childbirth and, think that the practices of care were good practices. It was observed the use of invasive practices of care, such as vaginal touch and oxytocin infusion. Women present fear, guilt, and shame for making use and abuse of alcohol and other drugs during pregnancy and even reject pregnancy.

In the perspective of the Transitions Theory it was evidenced that women present developmental transition:

pregnant/being a mother; situational transition: abusive use of alcohol and other drugs, and health-disease transition: congenital Syphilis treatment. Transition conditions influence by the way that each person reacts to the transition period. Prenatal care represents the first contact of women with the transitional process, and the nurse may facilitate the acceptance of pregnancy after the rejection. From the point of view of vulnerability, the narratives have shown that participants have individuals vulnerability: lack of information about the ways of transmission and prevention of sexual infections, low self-esteem to adopt a preventive way of life, by using condoms during sexual intercourse; social vulnerability: mothers with less than eight years of study, multiparous, singles, without occupation or with occupation that require only the fundamental level; and, programmatic vulnerability: lack of integration of services that was responsible of individual’s health care and the scheduling of Prenatal Care, and problems with routine exams during Prenatal Care.

Conclusion:

It was possible to recognize that the participants have been passing by three types of transitions; they were more vulnerable of the use and abuse of alcohol and other drugs; they have had obstetric interventions during childbirth and weren’t have had a special relationship with the nursing team, despite they mentioned a close relationship with Community Health Agents and Harm Reduction Agents.