As representações sociais da espiritualidade para pessoas que vivem com HIV/Aids
Publication year: 2018
O presente estudo tem como objetivo analisar as representações sociais da espiritualidade para pessoas que vivem com HIV/Aids de diferentes grupos religiosos. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo e exploratório, orientado pela Teoria das Representações Sociais em sua abordagem processual e estrutural e foi desenvolvido em duas fases: a primeira incluiu 166 pessoas que vivem com HIV/Aids em atendimento ambulatorial de um Hospital Universitário do Município do Rio de Janeiro, com as quais foram coletadas evocações livres ao termo indutor espiritualidade, e a segunda, 32 pessoas com o mesmo perfil e no mesmo hospital, sendo que, neste momento foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a partir de um roteiro temático com quatro eixos organizadores. A análise dos dados utilizou o quadro de quatro casas com o apoio do software EVOC 2005 e a análise de similitude para os dados oriundos das evocações livres e a análise lexical pelo software IRAMUTEQ para aqueles das entrevistas. Com relação à estrutura da representação, destaca-se que o Núcleo Central foi composto por ter-fé, Deus e religião, que se organizam ao redor das dimensões prática, imagética e institucional. Na primeira periferia, destaca-se a presença de elementos relativos às dimensões afetivas como amor e paz ligados ao transcendente. A zona de contraste revela a existência de elementos que expressam um caráter de enfrentamento como força, vida, tudo, crença e a figura imagética de Jesus. A partir da análise de similitude foi possível perceber uma maior tendência à centralidade ter-fé, Deus e amor, sendo que este último estava na primeira periferia do quadro de quatro casas. No que tange à análise lexical, foram definidas cinco classes: As definições de espiritualidade e suas influências no cotidiano da vivência e do enfrentamento da síndrome; A família, o trabalho e os relacionamentos afetivo-sexuais: as diferentes formas da rede social de apoio; Da morte à cronicidade: a aids vista a partir das memórias sociais; O enfrentamento de situações limites, o processo de autocuidado e sua relação com a espiritualidade; E o antirretroviral e a cotidianidade da pessoa que vive com HIV/Aids: aspectos positivos, desafios diários e dimensões da religiosidade. Destaca-se a organização da representação social da espiritualidade se deu ao redor de duas dimensões, a conceitual e a prática. A conceitual possui como eixo central a relação com o Divino, que, para católicos, evangélicos e sem religião, é centrado na figura de Deus, enquanto para os espíritas, no conjunto de seres que compõem o mundo espiritual. Na dimensão prática, a espiritualidade possui relação com aumento da autoestima e menor isolamento entre os católicos, maior sensação de bem-estar e paz entre os evangélicos, maior aceitação da síndrome e menor sofrimento entre os espíritas e maior isolamento entre os sem-religião, dentre outros aspectos. Conclui-se que há influência da espiritualidade no enfrentamento da síndrome e na vivência cotidiana com a aids, gerando, dentre outras coisas, uma ressignificação da vida em busca da superação do medo, do estigma, do preconceito e da própria morte.
This study aims to analyze the social representations of spirituality for people living with HIV/AIDS from different religious groups. It is a qualitative, descriptive and exploratory study, oriented by the theory of social representations in its procedural and structural approach.