Publication year: 2018
Introdução:
As doenças cardiovasculares são as principais causas de morbimortalidade em todo o mundo. Nas populações indígenas, no decorrer dos últimos anos, a ocorrência destas doenças tem aumentado consideravelmente. Alterações nos hábitos de vida e no padrão alimentar, bem como a proximidade das áreas indígenas de áreas urbanas, têm contribuído para este cenário. Objetivo:
Analisar o risco de doenças cardiovasculares em Indígenas Krenak do Estado de Minas Gerais. Materiais e Métodos:
Trata-se de um estudo de delineamento transversal, descritivo, desenvolvido com os indígenas das aldeias Krenak do Estado de Minas Gerais. Participaram deste estudo 117 indígenas com idades entre 30 e 74 anos, de ambos os sexos. A coleta de dados foi realizada no período de agosto de 2016 a abril de 2017. As variáveis sociodemográficas e de hábitos de vida, alimentares e de problemas de saúde foram coletadas a partir de questionário padronizado aplicado por meio de entrevista face-a-face realizada com todos os participantes do estudo. Para as variáveis antropométricas, bioquímicas e de pressão arterial foram realizadas medidas de estatura, peso, perímetro da cintura, glicemia capilar e pressão arterial. As estimativas de risco cardiovascular em 10 anos, risco cardiovascular ótimo, risco cardiovascular normal e idade cardiovascular foram realizadas por meio de equações propostas pelo estudo de Framingham. Resultados:
Dos 117 indígenas que participaram do estudo, 58 eram do sexo masculino e 59 do sexo feminino. Deste total, 82% apresentavam idade entre 30 a 49 anos, 6% não possuíam escolaridade, 83,7% eram inativos ou insuficientemente ativos e 52,4% passavam mais de 3 horas em frente à TV. O consumo pesado de álcool foi relatado por 10,3% dos participantes, e o tabagismo, por 14,4%. O consumo de carne gordurosa foi indicado por 59%, e 52,1% acrescentam sal na comida. O consumo regular de refrigerante foi relatado por 35,9% dos indígenas, enquanto a ingestão de frutas e hortaliças regularmente foi de 18% e 31%, respectivamente. A prevalência de hipertensão arterial foi de 57,3% entre os participantes do estudo, e de hiperglicemia, 20,5%. O perímetro da cintura aumentado ou muito aumentado foi encontrado em 67% dos indígenas e as prevalências de sobrepeso e de obesidade foram de 38,5% e 41%, respectivamente. O escore de risco cardiovascular estimado em 10 anos para os indígenas Krenak foi predominantemente baixo (75,2%), sendo os riscos moderado e alto de 16,2% e 8,6%, respectivamente. Porém, ao se comparar este parâmetro com os riscos cardiovasculares normal e ótimo, 79,5% dos indígenas apresentam risco cardiovascular estimado superior ao normal, e 94,9% apresentam risco cardiovascular estimado superior ao ótimo. Ademais, 79,5% dos participantes apresentaram idade cardiovascular estimada superior à idade cronológica. Conclusão:
Apesar do risco cardiovascular em 10 anos ser predominante baixo entre os Krenak, seu perfil sedentário, com hábitos alimentares nocivos à saúde e alto percentual de sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial e hiperglicemia poderão favorecer o aumento deste risco ao longo do tempo e, consequentemente, o surgimento de doenças cardiovasculares. Portanto, estratégias de promoção da saúde e de prevenção de doenças podem ser utilizadas junto aos indígenas Krenak, priorizando-se as ações de educação em saúde, visto se tratar de uma população jovem e escolarizada.(AU)
Introduction:
Cardiovascular diseases are the main causes of morbidity and mortality worldwide. In the last few years, the occurrence of these diseases has increased considerably among indigenous populations. Changes in the life habits and the food patterns, as well as the proximity of the tribes to urban areas, have contributed to this scenario. Objective:
To analyze the risk of cardiovascular diseases in Krenak Indigenous people of the State of Minas Gerais, Brazil. Materials and Methods:
This is a cross-sectional, descriptive study, developed with the indigenous people of the Krenak villages of the State of Minas Gerais. One hundred and seventeen indigenous people aged between 30 and 74 years, of both sexes, participated in this study. Data collection was done from August 2016 to April 2017. Sociodemographic variables and life and eating habits and health problems were evaluated using a standardized questionnaire through face-to-face interviews conducted with participants. Measures of height, weight, waist circumference, capillary glycemia, and arterial pressure were carried out for the anthropometric, biochemical and arterial pressure variables. The estimates for ten-year cardiovascular risk, optimal cardiovascular risk, normal cardiovascular risk, and cardiovascular age were calculated using equations proposed by the Framingham study. Results:
Of the 117 indigenous who participated in the study, 58 of them were males and 59 of them were females. Of these, 82% of them were age 30 and 49 years, 6% of them had no
educational background, 83,7% of them were inactive or insufficiently active, and 52,4% of them spend more than 3 hours in front of the TV. Heavy alcohol consumption was reported by 10,3% of the participants, and smoking, by 14.4%. Fatty meat consumption was indicated by 59% of the subjects, and 52.1% added salt to the meals. Regular consumption of sodas was reported by 35.9% of the indigenous people, while regular ingestion of fruits and vegetables was reported 18% and 31% of them, respectively. Prevalence of arterial hypertension was found in 57.3% of the study participants, while hyperglycemia was observed in 20.5% of them. An increased or greatly increased waist circumference was found in 67% of the indigenous people and the prevalence of overweight and obesity were found in 38.5% and 41%, respectively. The ten-year estimated cardiovascular risk score for the Krenak indigenous people was predominantly low (75.2%), while moderate and high risks were estimated at 16.2% and 8.6%, respectively. However, when this parameter was compared to normal and optimal cardiovascular risks, 79.5% of the indigenous people presented estimated cardiovascular risk higher than normal, and 94.9% of them present estimated cardiovascular higher than optimal. Moreover, 79.5% of the participants presented estimated cardiovascular age over chronological age. Conclusion:
Although the ten-year cardiovascular risk is predominantly low among the Krenak, their sedentary profile, with eating habits harmful to health and high percentage of overweight, obesity, arterial hypertension, and hyperglycemia may favor an increase in this risk over time and result in cardiovascular diseases. Thus, strategies to promote health and prevent diseases may be used with the Krenak indigenous people, prioritizing health education actions, since they are a young and schooled population.(AU)