Educação permanente em saúde e mudança de modelo assistencial: avanços e desafios no cotidiano da Atenção Primária à Saúde
Publication year: 2018
A Educação Permanente em Saúde - EPS é considerada como estratégica à consolidação do Sistema Único de Saúde. Contudo, existe uma lacuna de conhecimento acerca da contribuição da EPS produzida no cotidiano dos serviços e sua repercussão na mudança de modelo assistencial. Indaga-se: como a Educação Permanente em Saúde tem possibilitado a mudanças a partir do cotidiano das equipes na rede de atenção? Que movimentos ou indicativos podem ser visualizados para a mudança do modelo assistencial a partir das estratégias de EPS? Defende-se a tese de que mudanças no modelo assistencial podem ser proporcionadas, também, quando os sujeitos no trabalho em saúde experimentarem a EPS no cotidiano do serviço e puderem caminhar para a busca da autonomia e liberdade na resolução dos problemas. Em consequência, são evidenciadas outras e novas formas de organização das relações no processo de trabalho em saúde, que induzem, questionam, propõem e, por vezes, se refletem em mudança no modelo assistencial. O objetivo geral do estudo foi analisar a educação permanente em saúde como dispositivo para a mudança do modelo assistencial no cotidiano do serviço de saúde. O referencial teórico metodológico foi o cotidiano, segundo Agnes Heller. O cenário foi uma unidade básica de saúde do município de Belo Horizonte. Participaram do estudo os trabalhadores da Unidade e os usuários. Utilizou-se a observação participante, entrevistas em profundidade e grupos focais. Os dados foram submetidos à análise crítica de discurso. Os resultados indicam que a Unidade Básica de Saúde apresenta desafios relacionados a aspectos do cotidiano com repetições e regularidades, automatismo e economicismo. Contudo, foi possível evidenciar o trabalho criativo, a cooperação e a socialização. Os discursos dos profissionais sobre educação permanente em saúde conformam vocábulos como reciclagem, educação continuada, cursos e treinamentos, responsabilidade institucional, assim como o aprendizado no trabalho e com o outro. Os participantes reconhecem a educação permanente em saúde nas reuniões de equipe e de matriciamento, nas trocas de saberes e experiências em função da resolução dos problemas de saúde da população, reveladas por um discurso marcado por coesão, metáforas, temporalidades, modalizações e avaliações valorativas positivas e negativas acerca da EPS. Evidenciaram-se forças potencias para colaborar na mudança de modelo assistencial na busca pela centralidade dos usuários na atenção à saúde e a priorização das tecnologias leves. A gestão ativa e participativa, a atuação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e a integração ensino-serviço compõem o campo de forças positivas para a mudança do modelo assistencial. Contudo, a realidade pragmática, economicista e com regularidades, na maioria das vezes, impõe desafios para a transformação da lógica biomédica e burocrático-administrativa no modo de organizar os serviços. Concluiu-se que é necessário mais investimentos nos processos de educação permanente em saúde e o reconhecimento do cotidiano como espaço para reflexões e análises capazes de provocar desacomodação e superação crítica das repetições e do automatismo que marcam o fazer em saúde, abrindo espaço para novas práticas sociais.(AU)
The Permanent Education in Health - EPS is considered as strategic to the consolidation of the Unified Health System. However, there is a lack of knowledge about the contribution of EPS produced in the daily life of services and its repercussion in the change of care model.