A educação permanente no cotidiano dos trabalhadores da saúde: um olhar para o Hospital Risoleta Tolentino Neves

Publication year: 2018

Este estudo buscou analisar os movimentos de Educação Permanente em Saúde desenvolvidos no Hospital Risoleta Tolentino Neves. A investigação centrou-se na análise dos elementos da micropolítica do trabalho em saúde a partir da reestruturação da Política de Educação Permanente em Saúde em curso na instituição. Para a realização do estudo, optou-se pela abordagem qualitativa, apoiada em aproximações com o referencial da pesquisa interferência e da aprendizagem experiencial. O cenário do estudo foi o Hospital Risoleta Tolentino Neves, instituição inserida na rede pública de saúde, em Minas Gerais, Brasil. Participaram da pesquisa trabalhadores vinculados às atividades de apoio, administrativo, assistência e gestão, todos considerados como “trabalhadores-guia”. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se a técnica de grupo focal, entrevista e observação. Os dados foram submetidos à Análise do Discurso Crítica. No movimento de exploração e construção do campo da pesquisa, identificaram-se dois planos de análise, simultâneos, intrínsecos entre si: o “Movimento Descendente”, apresentando os achados relativos aos processos institucionais para viabilizar a reestruturação da educação permanente e o “Movimento Ascendente”, trazendo para a cena o olhar dos trabalhadores acerca da potencialidade do trabalho para os processos de ensino-aprendizagem. Os achados no plano do “Movimento Descendente” possibilitaram a construção de uma linha do tempo com os principais marcos vivenciados durante a proposta de reestruturação, possibilitando compreender as potencialidades e dificuldades na construção de espaços de educação permanente. É necessário superar a coexistência de paradigmas educativos contraditórios e avançar nos movimentos de sensibilização para valorização e legitimação do espaço do trabalho como um espaço de educação. No plano do “Movimento Ascendente”, foram identificados diferentes modos de aprender no cotidiano. Aprender e experienciar são processos além da mente, que afetam o corpo. Assim, os trabalhadores constroem, na relação trabalho e aprendizado, ganhos que ultrapassam os aspectos técnicos, repercutindo na/para a vida. Outro achado é a essencialidade da valorização profissional, por meio da criação de espaços para diálogo, reflexão, escuta e discussão de valores do e no trabalho, além do pertencimento e da implicação do trabalhador e da partilha entre o grupo. Esta proposta foi caracterizada por momentos de “abertura” e “fechamento”, possibilitando aos envolvidos vivenciar a cadeia dialética do “ver”, “rever” e “transver”. A construção de um espaço de articulação requer tempo, disposição para mudanças, investimento em pessoas e interesse em transformação. Esta é uma prática possível, tanto por encontrar na atual organização administrativa espaço de apoio, quanto por seus preceitos acontecerem de maneira informal, embora, sem a legitimação necessária para reconhecimento. A educação permanente é um dispositivo com capacidade de promover as transformações na qualidade da atenção à saúde, na perspectiva de melhoria do Sistema Único de Saúde, ao possibilitar momentos de reflexão, criticidade e criatividade. Espera-se que os resultados do estudo possam contribuir para dar visibilidade e dizibilidade ao movimento de educação permanente que acontece no agir do trabalho vivo em saúde, abrindo espaços para experimentação do novo, do não instituído.(AU)
This study aimed at analyzing Permanent Education in Health movements at Risoleta Tolentino Neves Hospital. Research was focused on the analysis of micro-policy health work based on the restructuring of the Permanent Education in Health Policy in progress at the institution. In order to carry out the study, qualitative approach was chosen, supported by approximations to the interference research and experiential learning benchmarks. The study scenario was Risoleta Tolentino Neves Hospital, an institution belonging to the public health network in Minas Gerais, Brazil. Workers linked to support, administrative, assistance and management activities, participated in the survey, and they were all considered “benchmark workers”. In order to collect data, focus group, interview and observation techniques were employed. Data were submitted to Critical Discourse Analysis. During the exploration and construction movements of the field of research, two analysis plans were identified, both of them simultaneous and intrinsic to each other: the “Downward Movement”, which presents findings related to the necessary institutional processes in order to enable permanent education restructuring, and the “Upward Movement”, which highlights the workers’ perspective on the working potential regarding teaching-learning processes. The findings associated to the “Downward Movement” plan made it possible to lay out a timeline featuring the main landmarks that were experienced during the restructuring proposal, making it possible to understand the potentialities and difficulties underlying the construction of permanent education spaces. It is necessary to overcome the coexistence of contradictory educational paradigms and to progress in the movement of sensitization so as to acknowledge the value and legitimacy of the workspace as an education space. Learning and experiencing are processes which outreach the mind and also affect the body. Thus, in work and learning relationships, workers obtain gains that surpass technical aspects and reverberate through life. Another finding points to the essentiality of professional appreciation through the creation of spaces for dialogue, reflection, listening and discussion of work-related values, as well as to the worker’s feeling of belonging and engagement and to the sharing among the group. This proposal was characterized by moments of “opening” and “closing”, which enabled those involved to experience the dialectical chain of “seeing” from a transversal point of view considering the present, the past and the future. Building a space for articulation requires time, willingness for change, investment in people, and interest in transformation. This is a possible practice because it is supported by the current administrative organization and also because its precepts take place in an informal way, although lacking the necessary legitimation in order to grant it recognition. From the perspective of improving the Unified Health System, permanent education is a device that is capable of promoting changes in the quality of health care by enabling moments of reflection, criticality and creativity. It is expected that the results of this study may contribute to raise visibility and sayability to the permanent education movement that takes place in actual healthcare practices, opening possibilities for the experience of the new and the non-instituted.(AU)