Percepção fenomenológica dos profissionais do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS): vivências e desafios da prática em saúde mental
Publication year: 2018
A Reforma Psiquiátrica trouxe mudança de paradigma na atenção psicossocial com relação especialmente aos processos de reorganização do modelo assistencial e às práticas cotidianas em curso nos serviços substitutivos. Considerando a interdisciplinaridade como uma estratégia importante para a organização do trabalho no atendimento aos usuários do CAPS torna-se relevante a dimensão das percepções no contexto das práticas da equipe de saúde mental.
Objetivos:
Geral: compreender a percepção dos profissionais de saúde mental acerca da desinstitucionalização e suas experiências vivenciadas nas práticas cotidianas do cuidado no contexto do CAPS.São objetivos específicos:
descrever a percepção dos profissionais de saúde mental acerca da desinstitucionalização do sujeito; elucidar as experiências dos profissionais nas práticas cotidianas de atendimento aos usuários no CAPS; e, discutir sobre a construção interdisciplinar do Projeto Terapêutico Singular, especialmente em relação ao acolhimento, vínculo, integralidade e resolubilidade.Metodologia:
Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva de campo, com abordagem qualitativa fenomenológica. Os dados foram coletados utilizando-se entrevista fenomenológica com 12 profissionais da equipe multiprofissional de dois CAPS na Região dos Lagos. Para a seleção dos mesmos, foram utilizados como critérios de inclusão os que atuam diretamente com os usuários, com pelo menos um ano de atuação nesse serviço e, de exclusão, os que estiverem em férias ou de licença, ou os que por algum motivo não possam ou não queiram participar. Para análise dos dados, foi utilizado o método de Clark Moustakas e interpretação com base no referencial de Maurice Merleau-Ponty. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF), mediante registro CAAE: 68433315.30000.5243.Resultados:
As categorias encontradas foram intituladas: - Primeira Categoria: Os sentidos da desinstitucionalização para os profissionais do CAPS, que abrangeu duas subcategorias: A Desinstitucionalização como um Processo; Uma ponte na integração com a família e sociedade; e, Um tratamento mais humanitário. - Segunda categoria: A desinstitucionalização da existência humana do paciente, que abrangeu: Aprendendo a Con-viver não mais enclausurados; Fortalecendo laços e vínculos; O preconceito e o estigma do paciente psiquiátrico. - Terceira categoria: Desafios da prática do cuidado singular em saúde mental, com três subcategorias: O Projeto Terapêutico Singular e a Interdisciplinaridade; Oficina Terapêutica percebendo a singularidade do usuário; O Desafiador Trabalho no Resgate da Cidadania.Conclusão:
O estudo mostra que a nova experiência do paciente desinstitucionalizado e inserido no novo modelo, precisa reaprender a viver em grupo, a conviver, uma vez que a existência do sujeito ainda está institucionalizada, mostrando a dimensão expressiva do corpo que ainda vive o modelo “encarcerado”. A percepção dos profissionais acerca do Projeto Terapêutico Singular aponta para uma dimensão voltada para a singularidade humana do usuário e de suas potencialidades, denotando um cuidado personalizado
The Psychiatric Reform brought about a paradigm shift in psychosocial care, especially in relation to the processes of reorganization of the care model and the daily practices under way in the substitutive services. Considering interdisciplinarity as an important strategy for the organization of work in the care of CAPS users, the dimension of perceptions in the context of mental health team practices becomes relevant.